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Para ser ágil, jurídico precisa sair da caixa, ouvir o cliente e desburocratizar

Ao trocar um grande escritório pelo desafio de empreender, Klaus Riffel enxergou oportunidade nos entraves cotidianos enfrentados na rotina do direito
Klaus Riffel, fundador e CEO da Doc9
Klaus Riffel, fundador e CEO da Doc9 - Divulgação

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Ana Busch

Em 2009, o advogado Klaus Riffel deixou a banca de um grande escritório de direito em Porto Alegre para resolver problemas do outro lado da mesa. Com perfil empreendedor, ele enxergou uma oportunidade nos entraves existentes na rotina jurídica e fundou a Doc9, uma lawtech cujo propósito é agir como uma facilitadora para processos cotidianos dos escritórios e das áreas jurídicas das empresas.

Apaixonado por resolver problemas e um curioso por tecnologia, criou soluções para simplificar rotinas burocráticas, aumentar a segurança jurídica e reduzir conflitos, evitando judicializações. “Se a gente conseguir deixar o direito mais fácil e leve, a vida das pessoas também vai melhorar bastante”, diz o hoje CEO da companhia.

As soluções da Doc9 apoiam clientes em audiências, cálculos judiciais, gerenciamento de acessos e certificados digitais e com uma plataforma de automação de fluxos e documentação legal para a área da saúde.

A empresa, cujo faturamento gira em torno de R$ 25 milhões ao ano, projeta fechar 2024 com R$ 38 milhões, um crescimento de quase 70%. Somente na vertical de produtos Saas, a ideia é dobrar de tamanho no próximo ano. O crescimento ganhou aceleração com aporte recente de R$ 3 milhões de um investidor anjo gaúcho. 

Desde a fundação, a lawtech saltou de 3 para 130 funcionários, e hoje administra uma carteira com mais de mil clientes, entre eles Ambev, Claro e iFood, além dos maiores escritórios de advocacia do Brasil.

Em entrevista ao +QD, Klaus falou sobre empreendedorismo, transformação digital e o futuro do direito. 

+QD: O que levou você a deixar de advogar para empreender?

Klaus Riffel: Sempre tive um perfil muito inquieto, e o direito começou a se tornar repetitivo e ao mesmo tempo ultrapassado na forma como era exercido à época em que resolvi empreender.

Como era apaixonado por resolver problemas, vi que havia uma oportunidade grande na dor que eu mesmo vivenciava: achar, treinar e gerir uma boa rede de parceiros correspondentes jurídicos. 

+QD: Por que a escolha de uma startup como negócio? 

Klaus Riffel: Startup, a meu ver, nada mais é do que um nome bonito para empresas inovadoras que não têm quase nenhum, ou mesmo muito pouco dinheiro para começar.

Empreender, de forma diferente, preocupado com dores e soluções ainda não pensadas, é uma boa forma de inovar. E a tecnologia normalmente é uma importante aliada para esse fim.

Muita gente confunde inovação com tecnologia. Na minha visão, inovação é forma ou modo. Já a tecnologia é ferramenta ou meio. 

Sobre tecnologia, sempre gostei do assunto. Mas como todo bom empreendedor, fui aprendendo o necessário ao longo da jornada, sempre com o intuito de fazer diferente e entregar mais valor para os nossos clientes.

+QD: Como surgiu a ideia de oferecer serviços para descomplicar as áreas jurídicas de empresas e escritórios de advocacia? 

Klaus Riffel: Sempre tive dificuldade de entender como essas áreas, tão relevantes para a vida das pessoas, eram ainda tão engessadas e presas ao passado em termos de possibilidade e ferramentas.

Quando fundei a Doc9, a ideia era tentar implementar soluções menos burocráticas e ineficientes. Primeiro para escritórios e depois para qualquer tipo de empresas. 

Afinal, na minha visão, toda relação interpessoal é também uma relação jurídica, e, se assim, a gente conseguir deixar o direito mais fácil e leve, a vida das pessoas também vai melhorar bastante.

+QD: A área jurídica tem passado por uma transformação nos últimos anos, graças à digitalização. O que esperar para os próximos anos em relação à modernização?

Klaus Riffel: Muita coisa nova, principalmente com as possibilidades trazidas pela inteligência artificial. 

Trabalhos repetitivos e sem valor são coisa do passado.

Cada vez mais a informação de várias áreas precisa ser melhor estruturada pelos operadores do direito, para que soluções mais completas e profundas sejam apresentadas para resolver as dores dos clientes. 

+QD: Qual é o impacto, para o cliente ou o consumidor de escritórios de advocacia, de algumas facilidades que a tecnologia pode oferecer?

Klaus Riffel: Leveza e competitividade. O Brasil é um dos países com maior número de advogados per capita do mundo. A concorrência é enorme. 

Com base em ferramentas tecnológicas e melhorias de processos internos, escritórios podem oferecer mais do maior diferencial que podem ter: a experiência.

Robôs ainda não oferecem experiência e relacionamentos precisos direcionados para as dores dos clientes. Entender isso é ponto básico para qualquer operador do direito.

+QD: Em que pontos o direito precisa desburocratizar?

Klaus Riffel: Em muita coisa para não dizer tudo. O direito reflete, na verdade, o grau de burocracia do nosso país. 

Tudo é difícil e complexo. Rotinas e relações que deveriam ser simples se tornam morosas e complexas em razão do sistema jurídico e dos operadores do direito acostumados a depender demais do Estado e da Justiça, para coisas que poderiam ser resolvidas de forma ágil.

Nossa missão parte justamente de analisar essas oportunidades e dar mais condições para que nossos clientes encontrem formas de lidar com as burocracias jurídicas de forma mais fácil e leve.

+QD: Você poderia dar um exemplo de como as empresas podem evitar judicializações?

Klaus Riffel: Analisando dados e melhorando rotinas internas. Se você tem uma base clara dos motivos principais pelos quais estão te procurando, os profissionais do direito conseguem agir mais facilmente na causa ou raiz do problema. Parece bobo e simples, mas não é.

Muitas empresas ainda são reativas nas suas soluções jurídicas e não entenderam, ainda, que as análises dos problemas administrativos e judiciais podem ser excelentes insights em termos de melhorias na relação com cliente, reduções de custos internos e outros tantos pontos.

As áreas jurídicas precisam sair de suas “caixas”, precisam ser mais ativas em todos os setores das empresas.

+QD: Vocês acabaram de lançar uma série de novos softwares. Você considera que isso foi uma virada de chave para a empresa e uma modificação estrutural no modelo de negócios?

Klaus Riffel: Com certeza. O Whom, o primeiro gerenciador de certificados digitais do país, resolve uma dor enorme gerada pelo compartilhamento desordenado de certificados digitais em escritórios de contabilidade, advocacia e tantas outras empresas.

Com a chegada desses produtos 100% digitais, fomos obrigados a nos transformar internamente para sermos ainda mais rápidos e disruptivos, implementando metodologias ágeis para ideação e desenvolvimento destes novos produtos.

+QD: Além desses lançamentos que outras mudanças vocês experimentaram na doc9 este ano? 

Klaus Riffel: Este ano está sendo um ano de crescimento muito acelerado. Estimamos, só na área digital, triplicar nosso faturamento recorrente. 

Com isso, estamos consolidando um jeito Doc9 de pensar e desenvolver ainda mais soluções que visam deixar a vida das pessoas mais leves, a partir da melhoria da gestão de rotinas e procedimentos jurídicos.

+QD: Além de médicos e advogados, outras ocupações podem ser beneficiadas com produtos digitais?

Klaus Riffel: Com esse propósito, não temos limites. Em qualquer mercado em que houver a possibilidade de uma relação interpessoal virar um conflito materializado, lá estará a Doc9 para ajudar com soluções para desburocratizar e facilitar a vida das pessoas.

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Ana Busch

Ana Busch é jornalista, com mais de 30 anos de experiência em Redações e sócia do +QD. Em 1999, fundou a Folha Online, que dirigiu até a integração com a Redação do jornal impresso. Também foi Diretora de Redação da Bússola, na Exame. Fundou e dirige a TAMB Conteúdo Estratégico.

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