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Segurança alimentar para população crescente requer inovar aquicultura, diz diretor da FAO

Audun Lem, da Divisão de Pesca e Aquicultura do organismo da ONU, participa de evento que trata de direitos dos trabalhadores do mar
Mais de 50 milhões de pessoas estão diretamente envolvidas na pesca e na aquicultura - Freepik
Mais de 50 milhões de pessoas estão diretamente envolvidas na pesca e na aquicultura - Freepik

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Por Ana Busch

Vivem hoje no planeta mais de 8 bilhões de pessoas. Em 2050, devem ser 9,8 bilhões, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). E precisam ser alimentadas. Mesmo que as áreas agrícolas mantenham uma produção crescente a uma taxa anual de 1,1% entre 2023 e 2032, como prevê a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o desafio da fome – que afeta quase 800 milhões – não é de solução fácil.

A resposta pode estar no mar. “Os produtos alimentares aquáticos são importantes para a segurança alimentar e também como geradores de emprego”, diz Audun Lem, diretor-adjunto da Divisão de Pesca e Aquicultura da FAO, em entrevista exclusiva.

Segundo ele, a aquicultura tem se tornado cada vez mais eficiente a um custo menor para os consumidores. “Isso deve continuar se desejamos alimentar uma população mundial crescente.”

Lem participa do Encontro da Rede Scalabriniana Stella Maris, um evento internacional promovido pela Congregação dos Missionários de São Carlos, para discutir temas como a escravidão contemporânea, tráfico humano e os direitos de pescadores e trabalhadores do mar, que começa hoje em São Paulo. 

+QD: Como o trabalho do mar contribui para a segurança alimentar global?

Audun Lem: A maioria dos bens comercializados é transportada por mar. Isso se aplica ao setor pesqueiro. Um terço de todo o peixe capturado ou cultivado entra no comércio internacional por mar.

Os produtos alimentares aquáticos são muito importantes para a segurança alimentar e para a nutrição – já que o peixe oferece benefícios particulares em comparação a outros produtos alimentares – e também como geradores de emprego e desenvolvimento econômico.

+QD: Quais são os riscos associados à segurança alimentar em produtos marítimos?

Audun Lem: Esses alimentos são geralmente bastante perecíveis e necessitam de uma cadeia de frio [processo que vai da captura ao transporte do produto, preservando condições de refrigeração e garantindo a conservação] bem funcional.

Acabamos de concluir um trabalho importante sobre os riscos e benefícios do consumo de peixe em conjunto com a OMS.

O resultado reforçou as conclusões anteriores, de 2010, de que o peixe é saudável e nutritivo e deve ser consumido pelo menos duas vezes por semana.

O consumo médio global per capita de pescado está um pouco acima de 20 kg. E a tendência é de mais demanda, graças ao crescimento econômico e a dietas melhores. Com mais oferta proveniente da aquicultura.

+QD: E como a aquicultura e o investimento em tecnologia nessa área contribui para isso?

Audun Lem: A aquicultura é frequentemente intensiva em capital e conhecimento. É um negócio em pequena escala. Portanto, tecnologia e inovação são fundamentais. Houve um progresso tremendo ao longo dos anos com uma produção mais eficiente a um custo menor para os consumidores. Isso deve continuar se desejamos alimentar uma população mundial crescente. Precisamos de investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento tanto no setor público quanto no privado.

+QD: Paralelamente é preciso preservar as áreas de pesca.  Quais são as melhores práticas de manejo para preservação?

Audun Lem: Temos uma caixa de ferramentas, que inclui a luta contra a pesca IUU [pesca ilegal, não declarada e não regulamentada]. Tudo ancorado no Código de Conduta da FAO para pescas responsáveis, que celebrará 30 anos em 2025.

Uma pedra angular é implementar medidas de gestão eficazes baseadas na ciência. Portanto, você precisa de bons dados e aplicação eficiente por países e ORGP [Organizações Regionais de Gestão da Pesca, entidades internacionais formadas por países que têm interesses de pesca em determinada área do oceano ou um tipo específico de peixe].

Mas cada país tem que encontrar um modelo que se adapte melhor à sua situação, da composição das espécies à realidade social.

É importante lembrar que mais de 50 milhões de pessoas estão diretamente envolvidas nas pescas e na aquicultura e, se incluírmos seus familiares, cerca de 600 milhões dependem direta ou indiretamente disso para seu sustento.

+QD: Em que medida a sustentabilidade está sendo integrada nas práticas do mercado de commodities marítimas?

Audun Lem: A sustentabilidade tem sido um fator chave por anos, em particular, a ambiental. Mas as dimensões sociais também são essenciais. Uma das razões pelas quais celebramos o Dia Mundial da Pesca é dar atenção às condições dos milhões de mulheres e homens envolvidos no setor. Importante acrescentar que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14 tem um propósito claro de trazer todos os estoques de peixes para o Rendimento Máximo Sustentável (RMS) até 2030. E o ODS 8 tem objetivos claros para trabalho decente.

+QD: Como as práticas de pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (IUU) são monitoradas e combatidas?

Audun Lem: Temos uma série de instrumentos que ajudam a combater a pesca IUU, incluindo o Acordo sobre Medidas do Estado do Porto da FAO, que coloca mais responsabilidade nos estados onde o porto se encontra para controlar os navios. Temos novas diretrizes sobre transbordo. Além disso, o novo Acordo da OMC sobre subsídios à pesca (ainda não em vigor) proíbe subsídios a embarcações envolvidas nesse tipo de prática.

Mas, muitos países precisam fortalecer sua capacidade institucional para gerir e implementar medidas mais eficazes no manejo da pesca. Outros países precisam de assistência na coleta, análise e relatório de dados de estoques.

Precisamos de mais cooperação internacional e melhorar a cooperação entre as várias agências governamentais. Muitos navios IUU estão registrados sob bandeiras de conveniência e tem sido difícil identificar o verdadeiro proprietário. A boa notícia é o aumento da conscientização e as novas medidas de combate.

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Ana Busch

Ana Busch é jornalista, com mais de 30 anos de experiência em Redações e sócia do +QD. Em 1999, fundou a Folha Online, que dirigiu até a integração com a Redação do jornal impresso. Também foi Diretora de Redação da Bússola, na Exame. Fundou e dirige a TAMB Conteúdo Estratégico.

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