Renan Salinas
No centro da governança corporativa, cada número precisa se justificar. Cada processo, por sua vez, exige rastreabilidade. Nesse contexto, o setor financeiro não é apenas um pilar de sustentação das empresas. Ele também se mostra como um campo fértil para a inovação regulatória. Diante disso, a Automação Robótica de Processos (RPA, na sigla em inglês) ultrapassou o papel de mera alavanca de eficiência. Hoje, ela atua, estrategicamente, como uma aliada robusta do compliance.
Segundo a Deloitte, 92% das empresas relataram melhora no compliance após adotarem RPA. Além disso, 86% reportaram ganhos de produtividade e 90% observaram melhorias na qualidade dos processos. Em setores críticos, onde falhas processuais geram não só perdas financeiras, mas também sanções legais e danos à reputação, esses números ganham relevância. Mais do que estatísticas, eles reforçam o valor jurídico e estratégico da automação.
A adoção do RPA no setor financeiro é crucial porque fortalece a governança corporativa, reduz falhas humanas, aumenta a rastreabilidade dos processos e potencializa o compliance, tornando-se uma resposta estratégica frente à crescente complexidade regulatória e ao risco reputacional das empresas.
Por que isso importa?
Transparência e facilidade
A automação de tarefas repetitivas e de alto volume — como reconciliação bancária, validação de notas fiscais, controle de gastos e auditorias internas — reduz riscos ligados ao fator humano. Esquecimentos, inconsistências e manipulações indevidas tornam-se menos frequentes. Além disso, cada atividade automatizada gera logs detalhados, auditáveis e invioláveis. Isso fortalece a transparência e, ao mesmo tempo, facilita o trabalho das áreas de auditoria e jurídica.
Esse tema interessa especialmente a gestores financeiros, profissionais de compliance, auditores, departamentos jurídicos e tomadores de decisão em empresas reguladas, que buscam aliar tecnologia à integridade corporativa, além de investidores e órgãos fiscalizadores atentos à transparência e à mitigação de riscos.
Para quem isso interessa?
Mais do que eficiência, o RPA entrega previsibilidade. O ambiente regulatório se tornou mais volátil. Ao mesmo tempo, cresce a responsabilidade penal das pessoas jurídicas — especialmente após a promulgação da Lei Anticorrupção (12.846/2013). Nesse contexto, a previsibilidade oferecida pela automação ganha ainda mais valor. Automatizar processos críticos significa reduzir vulnerabilidades, antecipar problemas e garantir evidências rastreáveis de boa governança, fatores cada vez mais observados por órgãos reguladores e investidores.
Potencialização ao compliance
No entanto, é preciso frisar: RPA não substitui o compliance, mas o potencializa. A tecnologia sozinha não garante integridade. Essa previsibilidade depende de uma matriz de riscos bem definida. Além disso, exige políticas claras e coerentes. Acima de tudo, requer uma governança capaz de estabelecer critérios: o que automatizar, por que fazê-lo e com quais salvaguardas jurídicas.
Além disso, é preciso pensar a implantação do RPA sob a ótica da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). A coleta, o tratamento e o arquivamento automatizado de dados financeiros e pessoais devem seguir critérios estritos de segurança da informação e consentimento. Não há benefício tecnológico que justifique um passivo legal.
Diante disso, as empresas do setor financeiro têm a chance de transformar o compliance em uma vantagem competitiva. Ao integrar RPA aos fluxos de controle, as empresas reduzem custos e ganham produtividade. Mais do que isso, constroem um ecossistema de confiança. Nesse ambiente, a conformidade deixa de ser apenas uma exigência e passa a representar uma marca de responsabilidade corporativa.
Vivemos uma era de vigilância constante sobre os dados. Além disso, empresas cruzam processos com frequência e enfrentam julgamentos não apenas nos tribunais, mas também pela opinião pública. Diante desse cenário, automatizar com inteligência se torna uma escolha prudente — e estratégica.