Conflitos? Como a mediação vem salvando relações

Diferente do juiz tradicional, o mediador não decide quem está certo ou errado. Seu papel é restabelecer a comunicação entre os envolvidos
Mediação é mais que um método jurídico. É praticamente uma nova filosofia de vida

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Sadik Sarkis

Imagine um mundo onde, em vez de trocas de acusações inflamadas, as pessoas se sentassem, lado a lado, para conversar como dois amigos dividindo um café e uma fatia de bolo. Parece utópico? Pois eu te digo que esse é o coração da mediação, um dos meios alternativos de resolução de conflitos que vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil.

O que é essa tal de mediação?

Eu vejo a mediação é como um GPS para conversas difíceis. Tenho presenciado a mediação ajudar pessoas adversas perdidas em seus próprios ressentimentos a encontrarem um caminho comum. O resgate do diálogo possibilita a união de adversários no enfrentamento de um problema. Me recordo das palavras de William Ury, especialista em negociação, ao tratar da relevância em transformar “um confronto cara a cara em uma resolução de problemas lado a lado”.


Por que isso importa?

A mediação é importante porque propõe uma abordagem mais humana, empática e eficaz para lidar com conflitos, seja no ambiente familiar, empresarial ou comunitário. Em vez de perpetuar disputas destrutivas e onerosas, ela promove o diálogo, a escuta ativa e a construção conjunta de soluções, ajudando as partes a compreenderem melhor os reais motivos dos desentendimentos. Além disso, contribui para desafogar o sistema judiciário

Em outras palavras, juntos enfrentando o que realmente importa, o conflito. As vezes o conflito não precisa ser resolvido para satisfazer as partes, basta mudar a forma destrutiva que lidamos com ele, pois ninguém precisa sair vitorioso ou derrotado. A ideia é sair mais leve e, se não resolvido, pelo menos sair com o conflito sendo tratado de forma construtiva.

Nessa jornada, entra em cena o mediador: uma terceira pessoa que, diferente do juiz tradicional, não decide quem está certo ou errado. Seu papel é restabelecer a comunicação entre os envolvidos. Eu o vejo quase como um maestro garantindo que todos toquem a mesma música, respeitando o ritmo e o tempo de cada um.


Para quem esse assunto interessa?

Este assunto interessa a advogados, empresários envolvidos em disputas societárias ou familiares, profissionais que atuam com resolução de conflitos e pessoas que buscam alternativas mais humanas e eficazes para lidar com desentendimentos sem recorrer diretamente ao Judiciário.

Por trás das cortinas do conflito: aparente x real

Nem sempre o que parece ser o problema é realmente o problema. Uma discussão sobre herança pode esconder anos de ciúmes entre irmãos. Uma briga de vizinhos às vezes camufla solidão e ressentimento. Na mediação, a missão é escavar essas camadas profundas até encontrar o verdadeiro nó.

A diferença entre o conflito aparente (o que está nas palavras) e o conflito real (o que está nas emoções) é como distinguir fumaça de fogo. Resolver apenas a fumaça é trabalho perdido, pois em pouco tempo, o incêndio volta. Enfrentar o fogo exige coragem, técnica e, claro, muita empatia.

Mediador: super-herói de terno (ou camiseta polo)

Ser mediador não é para amadores. Eu, um dia, até achei que era simples. Mas logo percebi que estava longe de ser fácil. Não basta ter boa intenção e voz calma. É preciso ter preparação técnica, sensibilidade de artista e a paciência de quem monta quebra-cabeças de 5.000 peças.

O mediador precisa criar um espaço seguro para que as pessoas possam “se ouvir, falar e refletir”, como dizem os especialistas. E fazer isso mantendo a imparcialidade. Ou seja, sem puxar sardinha para lado nenhum. Em conflitos empresariais familiares, onde as histórias se entrelaçam como novelos de lã, percebi que essa competência vira artigo de primeira necessidade.

E a preparação? Nada de “achismo”!

Se você pensou que mediadores nascem prontos, pense de novo. Não foram poucas as situações que observei o mediador usar todo o seu conhecimento e preparação. Eu destaco o treinamento específico, estágios supervisionados, educação contínua e muita prática. Tenho sido convidado a conhecer diversos centros e câmaras de mediação pelo Brasil e Portugal e observei um investindo pesado nisso, abordando desde teoria de sistemas a pensamento complexo.

E não, não precisa ser advogado, psicólogo ou médico para ser mediador extrajudicial. Seu propósito não consiste em aplicar o direito, conduzir procedimentos terapêuticos ou emitir diagnósticos, mas sim, apesar de ser um pouco de cada uma dessas profissões, ele precisa atuar como facilitador para que as próprias partes encontrem soluções para seus conflitos. Precisa ter capacitação, habilidade e, principalmente, a confiança das partes.

Mas nem tudo são flores…

Como eu disse, tenho presenciado o avanço da mediação, mas como advogado vejo que ainda enfrenta dificuldades no judiciário brasileiro. Muitas vezes me deparei com a mediação sendo evocada pelo judiciário como alternativa na solução de um litígio e, em vez de estimular um diálogo transformador, adotou procedimentos engessados, parecidos com um processo judicial tradicional, tal como a conciliação. Isso, sem dúvida, vai na contramão da proposta original da mediação.

E você, já pensou em resolver seus conflitos tomando um café e batendo um papo sincero?

Entendo que a mediação é mais que um método jurídico. É praticamente uma nova filosofia de vida. Que tal experimentar? Quem sabe aquele problema de anos que assola a sua empresa ou a sua família pode começar a ser resolvido em uma conversa, talvez regada a um bom café e a uma boa dose de empatia, coado e dosado pela mediação.

Sadik Sarkis

Executivo jurídico e de Compliance com mais de 20 anos na área de gestão e liderança corporativa. Associado com formação de Conselheiro Independente e integrante da Comissão Jurídica do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Membro de Conselho Fiscal e Membro de Conselho Consultivo de instituições do terceiro setor. Membro da Comissão Especial de Compliance da OAB/SP e Membro do Comitê de Cultura de Integridade da Rede Brasil do Pacto Global da ONU. Certificação em Educação Executiva em Compliance e formação de Especialista em Compliance, ambos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-Law/SP). Formação Executiva em Liderança e Negociação pela Executive Language Institute na Hult International Business School in Boston/MA. Pós-graduando de MBA em Inteligência Artificial em Negócios pela Faculdade Exame – Saint Paul. Mestrando em Soluções Alternativas de Controvérsias Empresariais pela Escola Paulista de Direito (EPD).

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