Democratização Jurídica | Inclusão Legal | Content Law      #LawIsCool

Parcerias

Automatizar exige decidir: eficiência com vigilância

Em um cenário cada vez mais automatizado, empresas precisam equilibrar agilidade com transparência, mantendo o controle humano nas decisões que moldam confiança e reputação
Decisões rápidas não podem ser decisões cegas
Automatizar não é abdicar da responsabilidade - Freepik

COMPARTILHE

Renan Salinas

Em um mundo onde tomamos decisões em frações de segundo e multiplicamos dados em velocidades exponenciais, vemos na automatização uma aliada inevitável da gestão. No entanto, o desejo de escalar a eficiência com agilidade e poucos erros traz uma inquietação crescente. Cada vez mais, ressoa pelos corredores corporativos uma pergunta essencial: como automatizar decisões sem perder o controle? E, além disso, como garantir que a confiança de quem depende dessas decisões permaneça intacta?


Por que isso importa?

Esse assunto é importante, pois automatizar decisões sem critérios claros pode comprometer a confiança, a ética e a governança nas empresas. Em um cenário de crescente uso da inteligência artificial, refletir sobre os limites entre eficiência e responsabilidade é essencial para preservar valores humanos em ambientes cada vez mais tecnológicos.

Segundo o estudo “Superagency in the Workplace: Empowering People to Unlock AI’s Full Potential”, da McKinsey, a inteligência artificial pode impulsionar significativamente a produtividade. A estimativa é de um crescimento de até US$ 4,4 trilhões para as empresas. Além disso, a pesquisa aponta que 92% das empresas planejam aumentar seus investimentos em IA nos próximos três anos.


Para quem isso importa?

Esse tema interessa a lideranças empresariais, profissionais de tecnologia, compliance, direito, gestão de risco e a todos que participam de processos decisórios. Também é relevante para consumidores e colaboradores, que têm o direito de compreender como decisões que afetam suas vidas estão sendo tomadas.

Agilidade não é cegueira

O número é expressivo e revela um movimento que já está em curso: delegar ao sistema o que antes era prerrogativa do julgamento humano. Mas há uma nuance importante aqui. Automatizar não é sinônimo de renunciar à governança. Quando a lógica algorítmica substitui o pensamento, a empresa entra em zona de risco. Nesse cenário, pode trocar agilidade por cegueira — e esse é um preço alto demais a se pagar.

O dilema não está em usar a tecnologia, mas em como projetamos e supervisionamos seu funcionamento. Automatizar com inteligência exige clareza sobre limites. É preciso saber até onde a máquina pode atuar sozinha. A partir daí, entra o julgamento humano, ancorado em critérios éticos, legais e culturais que uma empresa comprometida não pode ignorar.

É por isso que cresce o número de organizações criando núcleos de governança algorítmica, onde especialistas de tecnologia trabalham lado a lado com juristas, analistas de risco, profissionais de compliance e lideranças operacionais. O objetivo? Manter rastreabilidade, corrigir vieses e garantir que as decisões automatizadas reflitam os valores da companhia e não apenas o desempenho de um modelo matemático.

Tomada de decisão

A confiança, esse ativo invisível e muitas vezes negligenciado, também está em jogo. As empresas precisam explicar, ainda que em linhas gerais, como e por que tomaram determinadas decisões para que clientes, parceiros, usuários e até os próprios colaboradores compreendam o processo. A opacidade típica de muitos sistemas de IA e modelos de decisão automatizada pode corroer essa confiança em silêncio. Não por malícia, mas por falta de explicação e em um ambiente regulatório cada vez mais atento à transparência, como demonstra o avanço da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil e do AI Act na Europa, essa clareza deixou de ser opcional.

A densidade do debate se amplia quando se percebe que estamos diante de um paradoxo: quanto mais decisões automatizadas uma organização é capaz de tomar, mais ela precisa de um arcabouço humano robusto para controlar seus efeitos. É por isso que as empresas mais maduras digitalmente não são aquelas que automatizam tudo, mas aquelas que sabem o que não devem automatizar. 

Elas desenham camadas de validação, estabelecem limites claros para o uso da tecnologia e mantêm humanos nos pontos críticos da cadeia decisória, não por desconfiança da máquina, mas por consciência do impacto.

Automatizar sem perder o controle exige coragem para fazer menos hype e mais vigilância. Exige abandonar o discurso sedutor da “eficiência sem atrito” e encarar a realidade complexa dos contextos onde as decisões acontecem e, sobretudo, a compreensão de que por trás de cada decisão, por mais automatizada que seja, há sempre um valor que a sustenta, um interesse que a move e uma responsabilidade que não pode ser terceirizada. O futuro da automação não pertence à tecnologia em si, mas à inteligência com que escolhemos usá-la e isso ainda é uma decisão humana.

Foto de Renan Salinas

Renan Salinas

Renan Salinas é CEO e Founder da Yank Solutions

Autores

COMPARTILHE

Leia também

Receba nossa Newsletter

Negócios, Compliance, Carreira, Legislação. Inscreva-se e receba nosso boletim semanal.

TAGS

NOSSAS REDES

Nosso site utiliza Cookies e tecnologias semelhantes para aprimorar sua experiência de navegação e mostrar anúncios personalizados, conforme nossa Política de Privacidade.