Da Redação
O mercado está mudando rapidamente, exigindo adaptação às novas demandas e modelos de trabalho. Uma nova força de trabalho emerge com prioridades diferentes, buscando equilíbrio entre vida profissional e pessoal, pacotes de remuneração amplos e desenvolvimento profissional. A Bold HRO, consultoria de recrutamento e desenvolvimento organizacional, realizou uma pesquisa sobre impactos e tendências no mercado jurídico, focando em gestão de pessoas e novos formatos de trabalho. O estudo visa auxiliar escritórios nas decisões e planejamentos.
“Com tanta transformação acontecendo simultaneamente, é preciso apurar dados sobre o mercado e realizar uma leitura minuciosa a partir de recortes mercadológicos específicos, pois, dessa forma, será possível traçar metas e construir uma gestão estratégica com base na realidade”, afirma Maria Eduarda Silveira, sócia fundadora da Bold HRO e responsável por conduzir o estudo.
Pesquisa
O estudo foi realizado entre fevereiro e abril deste ano. Foram ouvidos 35 sócios e diretores dos principais escritórios jurídicos do Brasil. Eles atuam com advocacia full service e boutiques de direito empresarial. Destes, 47% têm mais de 100 colaboradores, 19% têm 60 a 80 pessoas, 16% têm 20 a 40, e 19% têm 1 a 20 colaboradores.
Dentre os principais desafios enfrentados por estes escritórios no último ano relatados na pesquisa, se destacam:
Gestão de pessoas
32% dos entrevistados relataram dificuldade nesta área. Isso indica problemas na motivação e engajamento dos colaboradores, desenvolvimento de talentos, turnover, liderança eficaz, comunicação interna e cultura organizacional.
Segundo Maria Eduarda, escritórios enfrentam o desafio de gerenciar o retorno ao trabalho presencial e novas demandas de gestão surgidas na pandemia. “O engajamento das equipes e o impacto dos modelos de trabalho híbrido na produtividade são pautas importantes, tendo um aumento de afastamentos por burnout, que precisa ser considerado nas estruturas”, declara a headhunter.
Geração de novos negócios
O segundo maior desafio relatado pelos entrevistados é a geração de novos negócios. 25% dos escritórios analisados enfrentam dificuldades na prospecção de novos clientes, desenvolvimento de novos produtos e implantação de inovação e tecnologia.
“Geração de negócios, carteira de clientes e perfil empreendedor são temas recorrentes nas reuniões com sócios. Seja para avaliar a promoção de novos sócios ou ao falar sobre o futuro do negócio. Toda empresa quer crescer, mas estamos deixando isso claro desde o momento certo? É um papel diferente do de advogado técnico. Requer gostar de se relacionar, ser criativo, se expor e enfrentar rejeições ao desenvolver novos negócios”, diz Maria Eduarda.
Atração e retenção de talentos
Atrair e reter talentos é o terceiro maior desafio dos escritórios no último ano, segundo 20% dos entrevistados. Há dificuldades no recrutamento, disputa por talentos, oferta de benefícios competitivos e criação de um ambiente de alto engajamento.
Para Maria Eduarda, a escolha dos profissionais em permanecer ou aceitar uma nova proposta tem várias razões. Remuneração é crucial, mas não é o único fator. “Clima do ambiente, flexibilidade, comportamento da liderança, perspectiva de carreira, transparência, posicionamento de mercado, desenvolvimento profissional e gestão de negócios são avaliados”, explica a especialista.
O material foi dividido em nove etapas, abordando desafios e perspectivas do mercado; contratação e turnover; principais habilidades; modelos de trabalho e benefícios; liderança; comunicação; cultura dos escritórios; bem-estar e engajamento; e tecnologia e inovação.
Outros desafios apontados no estudo foram:
Contratação
Os dados revelam que encontrar candidatos alinhados à cultura da empresa é o principal desafio na hora da contratação, relatado por 34% dos escritórios.
Segundo a pesquisa, este obstáculo se soma a outros dois pontos relevantes:
– Alavancar os salários: 28% das empresas indicam a dificuldade em oferecer salários competitivos para atrair os talentos desejados, em um mercado jurídico cada vez mais desafiador.
– Escassez de mão de obra qualificada: 22% dos escritórios apontam a falta de profissionais qualificados como um desafio na hora de contratar, evidenciando a necessidade de investir na formação e no desenvolvimento de novos talentos dentro de casa.
Remuneração e benefícios
Embora muitos escritórios ofereçam remunerações fixas interessantes, a falta de uma política estruturada de remuneração variável e incentivos de longo prazo pode impactar negativamente. A Bold HRO detectou, por meio de diagnósticos em diversos clientes, que os benefícios têm alto impacto na percepção de valor que os advogados têm dos pacotes de remuneração.
Turnover
Em comparação com a pesquisa de 2023, o índice de escritórios que relataram turnover entre 10% e 20% da equipe aumentou de 58% para 63%. Isso indica um aumento de 9% na rotatividade de advogados.
Contratações em números
Em 2023, os escritórios jurídicos mostraram uma forte tendência para contratações de cargos júniores, com 44% dos respondentes indicando essa necessidade. As contratações para cargos plenos foram de 38% e para cargos seniores, 19%.
“Os escritórios enfrentam um desafio na contratação de advogados júnior e pleno, especialmente nas áreas transacionais como societário, M&A, consultoria tributária e mercado de capitais”, comenta Maria Eduarda.
Modelos de trabalho
Os desafios também estão relacionados aos modelos de trabalho, divididos entre 100% presencial (7% atuam desta forma). Já o formato híbrido é realidade em 88% deles, sendo a principal tendência. Dentro deste número, 35% atuam três dias presenciais e dois dias de home office; 32% dois dias presenciais e três de home office e 22% atuam quatro dias no escritório e um em casa. Por fim, o modelo remoto atinge 5% dos escritórios.
Tecnologia e inovação
A pesquisa também revelou que 72% dos escritórios demonstram apoio ao investimento em tecnologia, seja em inteligência artificial ou sistemas digitais, visando impulsionar os resultados nos próximos dois anos.
Perspectivas
Para avaliar as perspectivas, o levantamento revelou: “Estou confiante com as perspectivas de negócios para o mercado jurídico em 2024.” Entre os entrevistados, 59% concordam plenamente, mostrando grande convicção nas oportunidades de 2024. 32% concordam parcialmente, indicando uma visão positiva com cautela. 6% discordam e outros se mostram neutros.
Maria Eduarda afirma que é crucial ter um olhar crítico para o negócio, considerando a estratégia de longo prazo e as ambições do escritório. “O setor de serviços precisa estar atento à Gestão de Pessoas, pois são elas que constroem o negócio. Não basta querer crescer; é necessário estar comprometido com as estratégias e processos que levarão a estrutura ao patamar desejado”, diz.