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Vale Tudo expõe preconceitos sobre mães que pedem pensão alimentícia

A trama traz à tona discussões importantes sobre os direitos das crianças e revela o estigma enfrentado por mães
Em “Vale Tudo”, Lucimar (Ingrid Gaigher) trava uma longa luta contra Vasco (Thiago Martins), na busca pelos direitos da pensão alimentícia
Em “Vale Tudo”, Lucimar (Ingrid Gaigher) trava uma longa luta contra Vasco (Thiago Martins), na busca pelos direitos da pensão alimentícia

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Elizabeth Vilela de Moraes

A repercussão da novela Vale Tudo, exibida atualmente pela Rede Globo, tem levantado importantes debates sobre os direitos das crianças e as dificuldades enfrentadas por mães solo. A trama de Lucimar, interpretada por Ingrid Gaigher, mãe do pequeno Jorginho (Rafael Fuchs), retrata com dolorosa precisão uma realidade enfrentada por milhares de mulheres brasileiras.

A realidade apontada na ficção

Na novela, acompanhamos o desespero de Lucimar ao buscar regularizar a guarda do filho e fixar judicialmente os alimentos a serem pagos por Vasco (Thiago Martins), o pai da criança. O que deveria ser um simples procedimento legal se transforma em um episódio de julgamento social.


Por que isso importa?

Ao retratar com realismo essas situações, a trama ajuda a informar e conscientizar o público sobre os direitos das crianças e das mães solo, além de provocar impacto direto na vida real, como demonstrado pelo aumento significativo na procura por atendimento jurídico após a exibição da cena..

Em uma cena marcante, quando Lucimar desabafa com a vizinha Aldeíde (Karine Teles) sobre sua intenção de regularizar a situação, é recebida com espanto: “Você vai botar o Vasco na justiça?”. A protagonista desta trama específica, então, explica que apenas quer regularizar a guarda e os alimentos, ao que a vizinha responde: “E não é a mesma coisa?”.

Esse diálogo ilustra perfeitamente o estigma que muitas mães enfrentam ao simplesmente buscar o cumprimento de direitos básicos de seus filhos.

O impacto real da teledramaturgia

A força dessa representação foi tão significativa, que gerou um fenômeno impressionante na vida real. Após a exibição da cena em que Lucimar decide buscar seus direitos, na terça-feira (13), a Defensoria Pública do Rio de Janeiro registrou um aumento extraordinário nos acessos ao seu aplicativo de agendamento.


Para quem isso importa?

Interessa principalmente às mães solo que enfrentam dificuldades para garantir judicialmente os direitos dos filhos, mas também à sociedade como um todo, pois promove a reflexão sobre igualdade parental, justiça social, empatia e o papel da mídia na transformação de realidades.

O sistema, que normalmente recebe cerca de 1.000 acessos por minuto, atingiu o recorde de 4.560 acessos no mesmo período – um crescimento de 300%. Milhares de mulheres se identificaram com a personagem e buscaram informações sobre como garantir o direito de seus filhos à pensão alimentícia.

A própria atriz Ingrid Gaigher celebrou esse impacto nas redes sociais, destacando o poder da novela em dar visibilidade a questões sociais tão importantes. Segundo a artista, três “maracanãs lotados” de mulheres se inspiraram na história de Lucimar, que reflete suas próprias experiências.

Os mitos e preconceitos que persistem

O julgamento social evidenciado na novela reflete falas comumente dirigidas às mães na vida real: “O pai não é uma má pessoa, basta conversar”; “Por que colocar o pai nessa situação?”; “Está tentando prejudicar o pai porque está sozinha”; “Quer colocar o pai na prisão por vingança”.

Essas narrativas ignoram um fato fundamental: ao regularizar a guarda e solicitar pensão alimentícia, a mãe não está buscando prejudicar o pai, mas garantir os direitos da criança, que possui dois genitores igualmente responsáveis por sua criação e sustento, conforme previsto em lei.

As consequências da informalidade

Muitas mães, pressionadas pelo julgamento social, acabam aceitando acordos informais por aplicativos de mensagem. Esses acordos, sem validade jurídica, deixam-nas desamparadas quando o genitor deixa de cumprir com o valor acordado. Enquanto isso, as contas continuam chegando. A criança precisa ser alimentada, medicada e vestida, e a mãe — violentada patrimonial e socialmente — muitas vezes se vê incapaz de proporcionar uma vida digna ao filho.

Como buscar seus direitos

A pensão alimentícia é uma obrigação prevista na legislação brasileira e normalmente recai sobre os pais que não detém o lar referencial da criança. Para iniciar o processo, é aconselhável consultar um advogado especialista na área. Também, é possível buscar atendimento na Defensoria Pública, que oferece assistência jurídica gratuita para pessoas em situação de vulnerabilidade.

O aumento exponencial na procura por informações após a cena da novela demonstra como muitas mães desconhecem seus direitos ou temem o julgamento social ao buscá-los. É fundamental que a sociedade compreenda: buscar a pensão alimentícia não é prejudicar o pai, mas garantir o direito da criança.

Toda mãe que exerce a parentalidade sozinha merece acolhimento da sociedade, e toda criança tem o direito de ter suas necessidades básicas atendidas por ambos os genitores, sem que isso implique qualquer forma de retaliação social.

Foto de Elizabeth Vilela de Moraes

Elizabeth Vilela de Moraes

Elizabeth Vilela de Moraes é advogada especialista em Direito Público e atua predominantemente no Direito Familiarista, com foco nos Direitos das Mulheres.

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