Como se proteger do golpe sofrido por Rebeca Andrade durante os jogos de Paris

A ginasta alertou seguidores no Instagram de que um golpista estava pedindo dinheiro em seu nome
O golpe do "falso familiar"é um dos mais comuns - Reprodução do Instagram

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Milka Veríssimo

Pouco depois de conquistar a medalha de bronze por equipes nas Olimpíadas de Paris, a ginasta Rebeca Andrade foi vítima do golpe do “falso familiar” no WhatsApp. Criminosos passaram a usar seu nome e sua imagem para pedir dinheiro a amigos e familiares pelo WhatsApp. Rebeca alertou seus seguidores pelo Instagram. Esse tipo de golpe é comum. Golpistas criam perfis falsos e solicitam PIX em nome da vítima. 


Por que isso importa?

Os golpes digitais têm crescido significativamente. Dados do Relatório de Fraude da Febraban de 2023 indicam um aumento de 44% nas tentativas de fraudes financeiras digitais em comparação ao ano anterior. Esse aumento reflete a sofisticação dos golpes e a vulnerabilidade dos usuários, que muitas vezes não estão cientes das técnicas utilizadas pelos criminosos. Saber como esses golpes funcionam e conhecer as medidas de proteção disponíveis é essencial para reduzir os prejuízos financeiros e preservar a segurança dos dados pessoais.

Para entender como se proteger, o +QD conversou com o advogado Marcelo Crespo, especialista em direito digital, coordenador do curso de Direito da ESPM.

Segundo ele, as plataformas não podem ser responsabilizadas por fraudes que envolvem conduta humana. “A dica é evitar ser vítima de fraude, pois, uma vez vítima, a chance de reaver o que se perdeu é pequena.” 


Para quem esse assunto interessa?

No Brasil, 99% dos internautas utilizam o WhatsApp, segundo dados da pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box de 2023. Além disso, aproximadamente 62% dos brasileiros fazem transações financeiras pelo celular. Ou seja, esse assunto interessa potencialmente a todas as pessoas que usam a internet. 

+QD: Quais são as primeiras ações que uma pessoa deve tomar ao perceber que foi vítima de um golpe digital?

Marcelo Crespo: Isso pode variar bastante de crime para crime, mas, como regra são os seguintes:

• informar amigos e familiares para que não sejam enganados também

• reunir e preservar provas: capture as telas, anote os principais acontecimentos e transações, salve as provas em aplicativos com tecnologia blockchain

• registrar um boletim de ocorrência relatando os fatos da forma mais completa possível

• notificar a empresa de tecnologia informando do golpe ou fraude

• bloquear e denunciar o contato fraudulento no aplicativo de mensagens.

• procurar um advogado comprovadamente especialista em direito digital para lhe orientar sobre possíveis medidas judiciais. 

+QD: Quais são os direitos do consumidor em casos de fraudes realizadas usando como meio aplicativos de mensagens como o WhatsApp?

Marcelo Crespo: Os direitos de consumidor se aplicam a relações de consumo. Casos como do falso familiar normalmente não se enquadram nessa categoria, tratando-se puramente de estelionato. Então infelizmente isso fica restrito, como regra, à esfera criminal.

+QD: O que as empresas de tecnologia, como o próprio WhatsApp, e os bancos, estão legalmente obrigadas a fazer para proteger seus usuários de golpes digitais?

Marcelo Crespo: Cada empresa tem responsabilidades diferentes conforme os produtos e serviços ofertados. No caso da ferramenta mencionada na fraude de Rebeca Andrade, a obrigação é de fornecer um serviço que seja seguro nas suas comunicações.

Mas quando a falha envolve especialmente conduta humana – fraude sobre quem é a pessoa –, a responsabilidade civil normalmente não incide sobre as plataformas. 

+QD: Em que situações as vítimas de golpes digitais podem ser ressarcidas, e como devem proceder para buscar essa compensação?

Marcelo Crespo: Para que haja ressarcimento é preciso comprovar a fraude, identificar o fraudador, acioná-lo nas esferas civil e penal. Ainda assim, é preciso achar recursos financeiros nas contas do fraudador. Mas, normalmente é dificílimo identificar o criminoso e, quando isso acontece, também é raro achar dinheiro com eles. Ou seja, a dica é evitar ser vítima de fraude, pois, uma vez vítima, a chance de reaver o que se perdeu é pequena. 

+QD: Por que é tão difícil identificar os criminosos nesse tipo de caso? 

Marcelo Crespo: Eles fazem uso de “laranjas”, de alta rotatividade de vítimas e de transações muito rápidas. 

+QD: A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) está preparada para proteger consumidores de fraudes e golpes digitais?

Marcelo Crespo: A principal função da LGPD não é criminal nem consumerista. Ela visa proteger a privacidade das pessoas. Para evitar fraudes precisamos de inteligência policial, recursos tecnológicos e pessoal. Como regra o problema é menor da lei e maior da falta de aplicação da lei. 

+QD: Que cuidados os consumidores devem ter ao compartilhar dados pessoais online para evitar cair em golpes?

Marcelo Crespo: O ideal é expor o menor número de informações pessoais que possam ser usadas em fraudes. Infelizmente muitos dados acabam sendo objetos de violações de segurança, ou seja, vazamentos, e isso foge do controle das pessoas que se tornam vítimas. 

+QD: Existe algum tipo de seguro ou proteção que os consumidores possam contratar para se proteger contra esse tipo de golpe?

Marcelo Crespo: Sim, existem alguns seguros específicos para proteção contra fraudes digitais e cibernéticas que cobrem perdas financeiras decorrentes de golpes e outras ameaças online. Esses seguros podem incluir serviços de monitoramento de identidade e assistência em caso de fraude.

+QD: No caso das figuras públicas, o que pode ser feito para evitar que seus nomes sejam utilizados em golpes como esse?

Marcelo Crespo: Como regra, essas pessoas devem: 

• registrar perfis verificados nas redes sociais para facilitar a identificação de contas oficiais

• informar regularmente seus seguidores sobre medidas de segurança e como identificar perfis falsos

• utilizar assessoria especializada para monitorar o uso de seu nome e imagem online.

 • tomar ações legais contra os responsáveis pela utilização indevida de sua imagem.

Milka Veríssimo

Milka Verissimo é jornalista formada pela Faculdade Rio Branco, com pós-graduação em comunicação corporativa e mais de 12 anos de experiência em assessoria de imprensa, no atendimento de grandes contas de diferentes segmentos de mercado.

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