Caio Campello de Menezes
Os conflitos armados que eclodiram recentemente ao redor do mundo me trouxeram, novamente, um sentimento de não-entendimento e de perplexidade. Por que realmente as pessoas entram em conflito? Sob todas as perspectivas que analiso o conflito, não encontro absolutamente nenhum ângulo que possa justificá-lo. Será que realmente não há outra forma de resolver as nossas divergências?
Por motivos que escapam à minha compreensão, a construção de diálogos (internos e externos) se perdeu, mas precisa ser urgentemente resgatada.
Na tentativa de encontrar respostas, seja como cidadão, seja como advogado, eu me deparei com algumas reflexões trazidas pela antropologia, pela sociologia e pela psicologia, que me ajudaram a entender um pouco melhor os gatilhos do conflito. Entretanto, nenhuma resposta, até agora, me trouxe a sinalização de qual seria a solução mais eficaz para prevenir ou solucionar litígios, de forma definitiva e pacífica. Minha missão é encontrar essa resposta.
De dentro para fora
Nessa jornada de busca, encontrei uma reflexão de Robert Miller sobre a origem dos conflitos, que me parece fazer todo sentido: “É no espírito dos homens que começam as guerras”. Se isso for verdade, deveríamos começar a tratar o humano internamente, em todos os seus aspectos, especialmente os valores como a ética e a moral. Se não tratarmos o nosso interior, bastará que alguém forneça munição e o conflito será novamente deflagrado. Os homens continuarão a se matar se os seus espíritos não forem pacificados.
Na mesma linha, o psicólogo francês Pierre Weil traz o seguinte ensinamento, na sua magnífica obra “A arte de viver em paz”, publicada pela Unesco: “Mais que ausência de conflito, a paz é um estado de consciência. Não deve ser procurada no mundo externo, mas no interior de cada homem, de cada comunidade e de cada nação”.
Um dos nossos principais erros, portanto, é interpretar a paz como algo externo ao homem. Se continuarmos a pensar dessa forma, os esforços se concentrarão no tratamento (externo) do conflito e, com isso, as guerras não terão fim.
A maior urgência dos tempos atuais é, portanto, educar as pessoas (principalmente as crianças), para que passem a resgatar a sua paz interior. Infelizmente, isso não é ensinado nas escolas.
Reeducação para a paz
Acredito, fortemente, na educação para a paz. Escolas, tribunais (nacionais e internacionais), administração pública, organizações não governamentais, diplomatas, meios de comunicação deveriam ser convidados a participar desse processo de reeducação da sociedade rumo à pacificação, com foco nas relações pessoais e interpessoais.
É chegada a hora de optarmos por uma nova metodologia, voltada para dentro, que cuidará do nosso processo individual de pacificação, por meio da compreensão dos nossos sentimentos, interesses e necessidades. Essa reeducação para a paz acabará sendo, portanto, o resultado dessa investigação interna das nossas mais profundas e verdadeiras emoções, especialmente os sentimentos de perda, ódio, vingança e injustiça.
No seu livro “Getting to Yes with yourself”, o negociador e mediador norte-americano William Ury ensina que nós somos os nossos próprios adversários. Assim, se trabalharmos os nossos interiores, desde a nossa infância, para nos pacificarmos, com empatia e compreensão, os conflitos externos deixarão de existir. Esse é o caminho que acredito deveríamos seguir rumo à pacificação dos conflitos globais.
E esse processo de conscientização pela paz deve começar nas nossas casas e nas salas de aula.