Por Cristiano Zanetta
Dada a atual situação no Rio Grande do Sul, em que mais de 400 municípios tiveram bairros inteiros engolidos pela chuva, marcando a maior tragédia climática da história do estado com mais de 2,1 milhões de pessoas afetadas, é momento de ponderar sobre nossos papéis como cidadãos. As crises podem surgir a qualquer momento, e nos revelar oportunidades para fortalecer a empatia e a solidariedade.
Neste momento, o país enfrenta o caos de frente. É nossa responsabilidade oferecer toda a ajuda possível. Juntos, mostramos que, apesar das limitações do governo em fornecer apoio total aos afetados, nós, os próprios brasileiros, nos mostramos presentes e solidários uns com os outros.
Nas últimas semanas, tem sido inspirador ver como artistas, figuras públicas, celebridades e voluntários pelo Brasil se mobilizaram para apoiar os 461 municípios afetados, as 78.165 pessoas desabrigadas e as 540.192 desalojadas, conforme relatório da Defesa Civil divulgado nos últimos dias.
Estamos assistindo a maior lição de gerenciamento de crises na história do país, mas de uma forma realmente positiva: colocando o ajuda às pessoas em primeiro lugar. E embora o uso de publicidade ou marketing para esse propósito possa parecer controverso, especialmente quando envolve empresas, o objetivo principal deve ser assegurar que as pessoas afetadas recebam o suporte e a dignidade que precisam.
Recentemente, o Ministério da Saúde lançou materiais com orientações emergenciais para o atendimento de vítimas de desastres, incluindo as populações afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. O objetivo desses materiais é proporcionar um acolhimento com escuta ativa e humanizada. Afinal, essas pessoas podem apresentar reações como medo, desconfiança e tristeza e precisam de atendimento que promova a saúde mental e atenção psicossocial.
Um dos volumes trata de respostas emocionais e primeiros cuidados psicológicos em desastres e emergências. O segundo, de perdas e lutos. E o terceiro, da situação de crianças em abrigos provisórios. O conteúdo completo pode ser acessado gratuitamente no site do Ministério.
Resgatando a humanidade
É importante resgatar a compaixão que muitas vezes deixamos de lado em busca de dinheiro e sucesso. Há alguns anos, quando escrevi meu livro “A Ciência do Batman”, baseado em mais de 15 anos fortalecendo emocionalmente pacientes oncológicos, percebi que existem três sentimentos cruciais para superar situações difíceis: medo, raiva e dor.
Ao trabalhar com pacientes com base nesses elementos, que são intrínsecos à realidade que estão enfrentando, conseguimos despertar uma força interior que os impulsiona a continuar lutando. Isso permite cultivar confiança e esperança dentro deles, independentemente se a dor for física ou emocional.
O medo é essencial para compreender a urgência da cura. No contexto do câncer, a ausência de medo pode levar a pessoa a negligenciar cuidados essenciais para sua sobrevivência. A raiva, se canalizada de forma adequada, pode gerar adrenalina e ser um forte impulso para que o paciente persista no tratamento. A dor, por sua vez, é um aprendizado duradouro, independentemente das circunstâncias, pois muitos de nós só aprendemos por meio dela.
Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, desenvolveu a Logoterapia como uma abordagem para encontrar o sentido existencial e a busca por significado na vida.
Baseando-se em suas experiências nos campos de concentração nazistas, Frankl destacou a importância da resiliência (para sobreviver àquela situação), do altruísmo (para ajudar os outros com o que sabia) e da gratidão (para aprender algo com tudo o que viveu). Ele nos ensinou a encontrar sentido, mesmo quando tudo o que resta é a fé.
Identificar essas emoções e transformá-las em instrumentos de solução, em vez de vê-las como mais problemas a serem resolvidos, é fundamental. Reconhecer a importância das emoções intensas pode converter desafios em oportunidades de crescimento e fortalecimento, tanto individual quanto coletivo.