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LGPD redefine contratos digitais e impõe novas obrigações de segurança, responsabilidade e transparência

Lei impulsiona amadurecimento jurídico e exige cláusulas mais detalhadas em contratos de tecnologia
Uma mulher olha para a tela de um computador enquanto segura um tablet. Ao lado dela, um homem se inclina para observar o monitor, segurando um copo descartável. Ambos parecem concentrados e trabalham em um escritório com iluminação baixa
A maturidade contratual virou diferencial competitivo e já influencia due diligences, auditorias e negociações entre empresas de tecnologia

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A entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº 13.709/2018) transformou profundamente a forma como contratos digitais são redigidos e executados no Brasil, sobretudo nas relações que envolvem plataformas de tecnologia, serviços em nuvem e soluções baseadas em dados. A norma, que consagra princípios como finalidade, adequação, transparência e segurança, impôs aos contratos a necessidade de refletir essas obrigações legais, com cláusulas específicas que disciplinem o tratamento de dados pessoais e sensíveis em todas as etapas da relação contratual.

A adequação à LGPD exige um novo padrão de redação contratual. “Os contratos digitais de tecnologia passaram a demandar detalhamento sobre quem são os agentes de tratamento — controlador, operador e eventuais subcontratados —, bem como as bases legais que legitimam o uso dos dados, as medidas de segurança adotadas e os procedimentos para o término e eliminação das informações”, afirma Daniel Lopes, sócio da área de contratos do Almeida Prado e Hoffmann Advogados.

Um erro ainda frequente é a inclusão de cláusulas genéricas sobre proteção de dados, sem detalhar as obrigações de cada parte.

“O contrato deve deixar explícito quais dados serão tratados, com que finalidade e por quanto tempo”, diz Lopes. “É fundamental descrever protocolos de segurança, prever notificações imediatas à Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e aos titulares em caso de vazamento ou acesso indevido, e estabelecer regras para a exclusão segura das informações após o término da prestação.”


Por que isso importa?

Porque, na prática, a LGPD deixou de ser só um tema regulatório e virou um filtro de confiança para o mercado: investidores, clientes corporativos e fundos de venture capital já descartam empresas que não conseguem provar governança de dados nos contratos. Não se trata apenas de evitar multa, mas de viabilizar crescimento, fusões, vendas e parcerias estratégicas.

Segurança jurídica e autenticação digital

A consolidação dos contratos eletrônicos também trouxe novos parâmetros de segurança jurídica. O uso de assinaturas eletrônicas e certificados digitais, antes considerado apenas boa prática, tornou-se hoje elemento essencial de conformidade.

“A autenticação digital por meio da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil) ou tokens de identidade reforça a validade jurídica dos contratos, assegura integridade documental e previne fraudes”, observa Lopes

Decisões recentes de tribunais brasileiros têm reconhecido a plena validade de contratos firmados por via eletrônica, desde que observados os requisitos de autenticidade e integridade. Esse entendimento tem fortalecido a segurança jurídica das contratações digitais, especialmente em ambientes regulados pela LGPD.


Para quem isso interessa?

O assunto interessa a qualquer empresa que pretende escalar ou receber investimento, especialmente startups e negócios de tecnologia que dependem de rodadas de captação, contratos com grandes corporações ou projetos internacionais. Também deveria preocupar conselhos de administração, CFOs e founders, que hoje são cobrados diretamente por falhas de privacidade e por contratos mal estruturados em auditorias e due diligences.

Cobranças, bloqueios e proporcionalidade

Outro ponto sensível diz respeito ao equilíbrio entre inadimplência, cobrança e proteção de dados em serviços digitais — como SaaS e cloud computing. Segundo Lopes, mesmo diante da falta de pagamento, o fornecedor deve respeitar os limites da LGPD e do Código de Defesa do Consumidor. “A coleta e o uso de dados para fins de cobrança devem se restringir ao mínimo necessário e seguir o princípio da finalidade. Suspensões automáticas de acesso devem estar previstas em contrato, ser comunicadas ao cliente e jamais expor dados pessoais de forma indevida”, afirma.

O advogado destaca ainda que a automação de cobranças e bloqueios é possível, desde que respeite a boa-fé, a proporcionalidade e a dignidade do consumidor, conforme entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). “A transparência é essencial: o usuário precisa saber de antemão quais são as consequências contratuais da inadimplência e de que modo seus dados serão utilizados nesses processos”, acrescenta.

Responsabilidade solidária e papel da ANPD

Nos casos de vazamento de dados ou uso indevido por terceiros, a responsabilidade civil pode recair tanto sobre o desenvolvedor quanto sobre o contratante, dependendo das falhas de segurança e governança verificadas.

“A ausência de cláusulas claras sobre proteção de dados aumenta o risco de responsabilização solidária entre as partes. A LGPD estabelece responsabilidade objetiva dos agentes de tratamento, o que significa que ambos podem responder pelos danos, ainda que apenas um tenha dado causa direta ao incidente”, declara Lopes.

Ele observa que a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e o STJ vêm influenciando cada vez mais o conteúdo e a estrutura dos contratos digitais. As decisões recentes da ANPD, ao lado de precedentes do Judiciário, reforçam a necessidade de contratos detalhados, com obrigações bem delimitadas, prazos definidos e previsão de auditorias e mecanismos de resposta a incidentes. “A regulação está se tornando mais rigorosa, e a tendência é que a ausência de governança contratual gere penalidades e danos reputacionais”, comenta.

Tendências e boas práticas

Entre as boas práticas recomendadas para contratos de tecnologia, o advogado destaca:

• Previsão de auditorias periódicas e inspeções de conformidade;

• Cláusulas sobre segurança da informação, confidencialidade e criptografia;

• Procedimentos formais para tratamento de incidentes e comunicação à ANPD;

• Definição de papéis e responsabilidades entre controlador, operador e subcontratado;

• Previsão expressa de eliminação ou anonimização dos dados após o término do contrato;

• Adoção de certificados e assinaturas digitais validadas pela ICP-Brasil.

“Essas práticas reduzem riscos jurídicos, fortalecem a transparência e criam um ambiente de confiança entre as partes”, afirma Lopes. Segundo ele, a conformidade com a LGPD já se tornou diferencial competitivo em negociações contratuais, especialmente entre startups e grandes corporações. “Durante processos de due diligence, o histórico de governança e proteção de dados é um dos primeiros fatores avaliados. A empresa que demonstra maturidade e rastreabilidade jurídica em seus contratos tende a conquistar mais credibilidade e oportunidades no mercado.”

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