Tomás Vilela
Trabalhar pelo uso seguro da energia nuclear, desmistificar questões relacionadas à segurança e aproximar a juventude latino-americana das soluções científicas e tecnológicas para a crise climática: essas são as missões do jovem colombiano Osman Cesar Granada Galvis, pesquisador do Observatório Latino-Americano de Geopolítica da Energia e mestrando em tecnologia nuclear pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).
Ativista e entusiasta do papel da juventude na transição energética, Galvis participou na semana passada (10 e 11 de junho) da 7ª Cúpula de Energia da Juventude do Brics, em Brasília. Segundo ele, os jovens da região têm papel estratégico na construção de uma identidade climática regional “engajada socialmente e ambiciosa do ponto de vista tecnológico” — capaz de enfrentar tabus, como o uso da energia nuclear, e propor uma transição baseada em justiça, inovação e equidade.
Plataforma Nuclear
O evento contou com uma sessão especial da Plataforma Nuclear do BRICS destacou o papel dos Pequenos Reatores Modulares (SMRs) como ferramenta-chave para descarbonizar setores de difícil transição e construir uma arquitetura energética multipolar baseada na cooperação internacional.
“Esses espaços ajudam a romper barreiras geográficas e criam uma identidade climática regional mais conectada com a ciência e com a justiça social”, disse Galvis em entrevista.
O encontro reforçou ainda a importância do envolvimento da juventude na inovação nuclear e nas parcerias energéticas transfronteiriças, com o anúncio da elaboração de um estudo inédito sobre o desenvolvimento dos SMRs, que integrará o BRICS Youth Energy Outlook 2025, documento que será apresentado durante a COP30 como contribuição das novas gerações para a agenda climática global. A Plataforma Nuclear do BRICS é uma iniciativa internacional e independente que reúne empresas, governos e organizações para promover a energia nuclear como solução limpa e cooperativa para o Sul Global.
+QD: Quais são os maiores equívocos que você enfrenta ao defender a energia nuclear como parte de uma matriz energética limpa na América Latina, e como você os aborda em fóruns da juventude?
Osman Cesar Granada Galvis: Um dos maiores equívocos que encontro ao defender a energia nuclear na América Latina é que as pessoas muitas vezes julgam essa fonte com base em incidentes históricos, sem compreender plenamente sua segurança atual e seus benefícios. Tendem a focar apenas nos aspectos negativos do passado, ignorando os avanços significativos e a ampla adoção dessa fonte limpa de energia. É fundamental destacar que a energia nuclear já é uma parte vital da matriz energética de muitos países, como França, Estados Unidos e China. A América Latina também está avançando: Brasil e Argentina operam reatores nucleares, e outros países, como a Bolívia, demonstram interesse na tecnologia nuclear e estão desenvolvendo centros nucleares com apoio internacional.
Em fóruns e eventos voltados para a juventude, abordo esses equívocos desmistificando a tecnologia nuclear. Foco em seus benefícios, mostrando seu papel no fornecimento de energia limpa e confiável e na redução de emissões de carbono e em suas aplicações diversas, como na indústria, na medicina (radiofármacos), na preservação de alimentos e em outros setores. Por fim, no aspecto da segurança, enfatizando os protocolos modernos e os avanços tecnológicos.
+QD: Na sua experiência, como o ativismo climático na América Latina pode se conectar melhor com as agendas científicas e tecnológicas, especialmente em áreas como inovação nuclear e equidade energética?
Osman Cesar Granada Galvis: O ativismo climático é fundamental e, na América Latina, tem um papel essencial em representar a energia nuclear de forma precisa. O ativismo ajuda a conscientizar sobre os inúmeros benefícios da energia nuclear para os seres humanos e para o meio ambiente, especialmente em um momento em que o mundo enfrenta consequências ambientais cada vez mais severas devido às mudanças climáticas.
Acredito que o ativismo climático pode se integrar melhor às agendas científicas e tecnológicas por meio de uma colaboração mais estreita com os tomadores de decisão. Essa parceria pode impulsionar significativamente as iniciativas educacionais sobre o setor nuclear e criar maiores incentivos para a adoção dessa tecnologia. Essa colaboração também promoveria de forma mais eficaz a inovação nuclear e a equidade energética em toda a região.
+QD: Como eventos e plataformas liderados por jovens ajudam a construir uma identidade regional para a ação climática latino-americana que seja ao mesmo tempo socialmente engajada e tecnologicamente ambiciosa?
Osman Cesar Granada Galvis: Na minha experiência, eventos e plataformas liderados por jovens têm um impacto surpreendentemente forte. Eles superam barreiras geográficas com eficácia e reúnem conhecimentos e perspectivas diversas de diferentes países. Por exemplo, no recente Fórum da Juventude Latino-Americana, realizado no Rio de Janeiro, pude testemunhar de perto o entusiasmo dos jovens participantes em aprender sobre os usos, a importância e outros temas relacionados à energia nuclear. Também foi extremamente enriquecedor ouvir as visões deles sobre a energia nuclear a partir das realidades de seus próprios países.
Esses espaços nos ajudam a compreender as aplicações reais da tecnologia nuclear, dissipando medos e preocupações. Quando há uma compreensão mais clara sobre o universo nuclear e sua imensa importância, uma identidade regional mais forte para a ação climática — socialmente engajada e tecnologicamente ambiciosa — começa a se formar naturalmente.