O Diabo no mundo corporativo, além da Prada

Fábula do mundo corporativo, "O Diabo Veste Prada" mostra as coisas como elas são
Anne Hathaway, em O Diabo Veste Prada

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Eu gosto bastante de “O Diabo Veste Prada” e, desde a primeira vez que vi, achei que era uma baita fábula do mundo corporativo.

Acabei revendo e anotei algumas impressões sobre o filme, sobre trampo, sobre “as coisas” como elas são.

1. Deixe uma primeira impressão.

Você tem alguma coisa em você que alguém vai notar. Se você nunca ouviu falar em “elevator pitch”, pesquise.

Você consegue deixar alguém, em uma entrevista profissional ou um evento casual, “pensando em você” mesmo se a conversa toda tenha durado dois minutos?

A Andrea – personagem vivido por Anne Hathaway no filme – conseguiu, e isso lhe valeu o emprego.

Se você não consegue pensar no que pode gerar essa grande impressão sobre você num papo de elevador, corre atrás. Arruma algo e use quando a oportunidade surgir.

2. “Aos empregos que pagam o aluguel”

É com essa frase que Andrea e os amigos brindam no começo do filme, quase desdenhando do que fazem, sob essa justificativa.

Mas emprego é isso aí, gente. É o que paga o aluguel e derivados. E não tem nada de errado nisso.

Ah, se você fizer bem feito o que te pagam pra fazer, sem reclamar e encher o saco, pode até ser que você consiga pagar um aluguel melhor.

3. Peça demissão!

O emprego é uma bosta, o chefe é cruel & diabólico, os colegas de trabalho são escrotos, a empresa (adoro quando falam desse jeito, como se fosse uma entidade A EMPREEEEESA) não valoriza você?

Se demita!

Claro, combine com os russos (boletos) antes de sair se libertando de lugares que te privam da felicidade, mas não fique em um lugar horrível, com pessoas horríveis.

A não ser que seja só a sua baixíssima tolerância à frustração agindo, combinada com uma irrefreável vontade de incomodar os outros e reclamar o tempo todo do sistema.

Mas não passe vontade, peça demissão! Você merece coisa melhor, né? A gente também, que trabalha com uma pessoa carregada na urucaba: por favor, peça demissão.

Sabia que, para muita gente, o equivalente a “objetivo de vida” é o emprego que você tanto reclama, com o chefe que você odeia, na empresa que você critica?

Peça demissão, vá ser feliz. Ou para de resmungar.

4. Não é só uma revista

Se você ainda não sacou que seu trampo “não é só um whatever”, tá no trampo errado, perdendo o seu tempo.

Porque VOCÊ também não é só um (insira aqui o seu savoir faire).

5. Não seja o namorado babaca, nem o amigo babaca

Preguiça, né?

Henry Miller fala em “Sexus” que é muito mais fácil se solidarizar e ajudar um amigo no perrengue que ficar genuinamente feliz com um amigo se dando super bem.

Ou de apoiar um amigo quando ele se mete a fazer algo muito sensacional. Parece que a gente não gosta de exemplos de gente foda muito perto da gente.

Parece que podia ser a gente, se dando mó bem e tal, mas a gente prefere dizer que fulano não é mais o mesmo. Que não liga mais pros amigos.

Que agora só quer saber de (e falam de algo que lhe corrói por dentro, de inveja).

Isso quando não diz que “ah, eu era feliz com vinte anos, ia no Girassol com dez reais no bolso tomar cerveja e comer um mexidão.”

Eu era feliz APESAR de só ter dez reais no bolso. Era feliz porque, aos vinte anos, tem toda uma possibilidade do que se fazer com o corpo, a flexibilidade e o fígado do Thor.

Ah, tem o seguinte também. Não queira dar uma de Tim Maia pra cima do Roberto Carlos quando o seu amigo se der bem, porque, dentre tantas coisas, abriu mão de fazer o monte de merda que você não só fez, como gostou de fazer E SE ORGULHA de ter feito.

6. Consiga o manuscrito do Harry Potter

Se vira.

Give your jumps.

Pense fora da caixa – estou brincando, essa frase é idiota demais.

Mas sobre esse tipo de gente que pede manuscrito do Harry Potter na mão das gêmeas até às 15h, tenho duas coisas a dizer:

1. são pessoas inteligentes e não chegaram à posição de pedir manuscrito do Harry Potter por acaso, portanto, talvez não seja algo impossível de se conseguir. Aliás, seja como o Spock: exclua o impossível e o que sobrar, ainda que improvável, pode ser executado.

2. esse tipo de gente gosta de falar pros amigos, em mesa de bar ou qualquer coisa do tipo: “fulano que trabalha pra mim é FODA, conseguiu o manuscrito do Harry Potter pras minhas gêmeas; esse cara eu posso contar com ele!

7. Não perca sua essência

Sobre perder essência e a Andrea largando tudo e jogando o celular na fonte, que bonitinho!

Ah, que rebeldia inspiradora.

Lembra no começo do filme, quando o pai – jantando com ela – entrega um envelope com grana “pra ajudar no aluguel”?

Então. Quando você tem um pai ou uma mãe que pode chegar com um envelope, dá pra levar uma nessa de essência. E largar tudo. E fazer o que te faz feliz!

Vai fundo!

Ou então, faça como ensina o Mark Twain:

“Se comer sapo faz parte do seu trabalho, coma o seu sapo logo de manhã. Se você tem que comer dois sapos por dia, coma o maior primeiro”.

Porque, sobre ESSÊNCIA, a gente sempre encontra aquilo que procura. Em termos de trampo, de relacionamento, de amizade.

“Ah, eu sou do bem, super budista, como linhaça, vou de bicicleta pro trabalho, medito, adoto cachorro, mas só arrumo tranqueira.”

TEMQUEVÊISSAÊ.

A gente fica sozinho porque quer. Ou porque QUER mesmo, tipo celibato, ou porque não quer abrir mão de ser mala, “ser verdadeira e falar na cara”, cheio de mania e dogma, do tipo que precisa de bula e tutorial pra conviver. Ou porque se diz escorpião com ascendente em capricórnio e lua sei lá onde.

Num determinado recorte da sociedade, tipo o meu, serve pra trampo também. O tipo que “não se sujeita”.

Ok, tudo certo. Se o envelope do pai tá chegando aí pra “ajudar no aluguel”, tem mais é que não se sujeitar mesmo!

Essência.

Mas no fim, se o seu chefe é realmente escroto e o ambiente cheio de babacas, sair fora é até uma questão de saúde.

E pode crer que vai ser pra algo melhor.

No fim, não é nada, não é nada… teve Paris.

E todo trampo tem um equivalente a Paris pra gente relembrar, quando deixa pra trás!

Randall Neto

Randall Neto é advogado formado pela PUC-GO. Depois de 20 anos de atuação em empresas líderes de mercado em fitness, migrou para o marketing digital e hoje atua como sênior copywriter e content producer na mesma empresa onde era Diretor Jurídico.

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