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O nome da coisa

Envelhecer é um ótimo negócio, porque o contrário é péssimo. Se você tem mais de 40 anos, aproxima-se perigosamente da realidade que rola por aí
O mundo está envelhecendo e a necessidade de se manter ativo por mais tempo, exige que as diferentes gerações abram espaço para os idosos no mercado
O mundo está envelhecendo e a necessidade de se manter ativo por mais tempo, exige que as diferentes gerações abram espaço para os idosos no mercado - Freepik

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O nome da coisa é etarismo, ageísmo, idadismo ou coisa pior. É tudo a mesma coisa. Nada mais é do que preconceito de idade. Em geral, com os mais velhos. Porém, jovens em pleno vigor são prejudicados pelo mesmo preconceito por serem… jovens demais. 

Já passei por isso. 

​No caso dos maduros, no início aparece como brincadeira na conversa entre amigos e familiares. Mais adiante, será frequente também em outras rodas. São críticas nem sempre veladas ao modo de pensar, de ver o mundo, de vestir, de falar, de criar novos projetos, de aprender, à competência para realizar mais complexas, de se arriscar em novas aventuras, ao sexo na Terceira Idade. É um sem-fim de piadinhas, defeitos e deboches. agressões. Na verdade, são microagressões.

Já passei por isso também.

Se você for mulher, negra, obesa, gay ou tenha qualquer particularidade diferenciada do que nomeiam como “normal”, tudo fica ainda pior e mais difícil.

Lamentavelmente, o preconceito não se limita ao ambiente corporativo. Manifesta-se em todos os lugares, de forma desrespeitosa, e muitas vezes, agressiva, inclusive quando deseja fazer o contrário. 

O preconceito In Company

Trataremos aqui apenas do que ocorre no mundo corporativo, um antro de preconceitos de todas as cores, onde o etarismo assombra profissionais à medida em que a idade avança, tornando as oportunidades mais escassas e o risco de desemprego mais concreto.

Se você tem mais de 40 anos, aproxima-se perigosamente da realidade que rola por aí. Mas não se aborreça por que envelhecer é um ótimo negócio. Ruim é não envelhecer. Ruim é ser preconceituoso(a).

O trabalhador mais idoso recebe avaliações ponderadas pelo tempo de vida. Os mais experientes, que já viram muita coisa, reconhecem os sinais, se retraem em autodefesa e reagem tornando-se mais intolerantes a certas baboseiras que volta e meia reaparecem como a “novidade da estação”. Na berlinda, perdem produtividade.

Empresas preferem sangue novo porque, entre outras coisas, é mais barato. Acreditam que os jovens são mais abertos, rápidos, criativos, aprendem sozinhos e compram com mais facilidade as tendências de gestão indicadas pela alta administração com a ajuda de mentores da hora.

​Esquecem muitas vezes que os jovens colaboradores desejam muito mais do que as organizações envelhecidas querem ou podem oferecer.

A antiquada história de “vestir a camisa” está cada vez mais desbotada, embora sempre apareça estampada em camisetas coloridas e na boca de alguém decidido a exigir mais engajamento dos times a troco de cuspe.

No mercado real, nem todas empresas são startups coloridas, com máquinas de refrigerantes, mesas de sinuca e ping-pong dividindo o espaço físico com almofadões para um cochilo no meio do expediente. 

Organizações menos antenadas (ou mais conservadoras) não toleram colaboradores cujo estilo de vida parece desafiar a cultura e a hierarquia corporativa. Muitos profissionais são assediados quando ousam sair da linha.

Os passos tímidos da inclusão intergeracional

Existem ações positivas de inclusão com bons resultados para tentar reequilibrar situações que persistiram muito além do tempo ideal, especialmente em questões de raça e gênero. É um avanço notável e um ótimo exemplo em todos os sentidos.

No campo da inclusão intergeracional ainda temos dificuldades, os passos são tímidos e resultados efetivos ficam aquém das expectativas. É possível que o entusiasmo na implementação de programas bem-intencionados provoque a supervalorização de suas possíveis virtudes, mas o pouco cuidado no planejamento dos passos seguintes cria um vácuo estratégico que põe quase tudo a perder.

Ainda traumatizadas pela pandemia, as equipes trabalham no limite da exautão, com excesso de tarefas e escassez de tempo. A adoção do trabalho a distância mudou o panorama das empresas e sua relação com os trabalhadores, criando mais flexibilidade e autonomia.

Entretanto, afastou as pessoas do convívio cotidiano, anulando ações de integração entre times diferentes entre si. A interação diária é benéfica para a inclusão geracional porque reduz estranhamentos e estimula a colaboração espontânea. 

Sem ninguém para mexer e atiçar o fogo, a mistura esfria e azeda. E o diálogo não acontece como deveria. Todos permanecem com seus iguais, suas metas e objetivos pessoais.

Esse divórcio produz avaliações desmotivantes tanto para os jovens, como para os idosos, que avaliados pela ótica do preconceito não alcançam o reconhecimento dentro da organização. No fim, todos se decepcionam e a empresa perde.

Quem pode, troca de emprego. Quem não pode, chora.

Conflitos geracionais: origens

​É fato que o mundo corporativo está cada vez mais agressivo e tóxico pela concorrência exacerbada dentro e fora das organizações. Mas a maior parte dos conflitos, surge por falta de diálogo, transparência e boa governança.

Sejamos claros: no capitalismo real, uns querem explorar os outros. Generalizando, temos de um lado, gestores que querem cortar custos, pagar pouco para aumentar o lucro da empresa e mostrar eficiência para engordar o próprio bônus. Em alguns casos, limitam os meios e estrangulam a atividade-fim.

Do outro, e generalizando também, têm os que apostam na força da juventude convencidos da própria autossuficiência e genialidade: querem ser promovidos ontem, ganhar altos salários agora, oferecendo em troca baixo engajamento e entregas de pouca qualidade. Vivem sem medo de ser feliz. Alguns produzem muito calor e pouca luz.

​Os mais experientes (“velhos”) já viram e ouviram muita balela na vida. Sabem a diferença entre monges e executivos, filosofia e autoajuda, ciência e chute. Não acreditam mais em antigos mantras renovados, sabem que estrangeirismos da moda servem apenas para renomear velhos problemas sem solução. Em poucos meses, mudarão de nomes para disfarçar incompetências e entrarão em desuso, substituídos por novas gírias corporativas. 

É certo que existem uns tios folgados que acham que sabem tudo, não se atualizam, são inflexíveis e autoritários. Falam muito, fazem pouco, não ensinam ninguém e não trazem nenhuma ideia inovadora. O diabo sabe que gente improdutiva, enroladora e de caráter duvidoso se espalhou de forma assustadora no pós-Paraíso e infestou a pesquena, médias e grandes corporações. 

Os mais velhos sofrem com suas limitações para acompanhar a velocidade da tecnologia digital. A dificuldade é real, e sendo mais lentos nesse quesito, acabam sendo menosprezados como se não tivesse outras habilidades e competências.  

Para os nativos da Era Digital, é um ambiente ultracompetitivo, individualista, movido a falácias que certamente acabarão desmascaradas pelo tempo. 

A exposição excessiva ao mundo online, ambientes virtuais insalubres, informações e conteúdos falsos, ideologias deturpadas ou inadequadas para a idade podem causar dependência exagerada de recursos tecnológicos, dificuldade de convivência no mundo offline e distúrbios à saúde mental com riscos iminentes ao bem-estar e à estabilidade emocional dos colaboradores.

Sonhos inalcançáveis e metas irrealizáveis induzem ao fracasso e à humilhação. Burnout à vista. Game over.

***

Tratamos aqui ​de preconceitos perversos que, mais cedo ou mais tarde, atingem a todos e que precisam ser combatidos com inteligência e humildade pelas partes envolvidas. Convém lembrar que somos, todos nós, degraus para as gerações que vêm a seguir, e que a troca de bastões é inevitável e inexorável.

O conflito de gerações é antigo como o mundo. O combate aos preconceitos é mais recente, uma conquista dos Direitos Civis constituidos para suprimir privilégios históricos e igualar os cidadãos entre si. 

Embora condenável e mais visível, o etarismo não acabou. Na atualidade tem se tornado mais urgente, exigindo sabedoria e tolerância entre as diversas gerações que convivem em sociedade. Todos precisamos atenuar o preconceito que nasce do atrito etário.

O mundo (e o Brasil, em especial) está envelhecendo e a necessidade de se manter ativo por mais tempo, exige que as diferentes gerações atenuem o etarismo e abram espaço para os mais idosos no mercado de trabalho. 

Cabe aos novos atletas, no papel de atores principais dessas lutas, promover o aprimoramento e a adaptação das novas tecnologias para levar adiante projetos e tarefas iniciadas por seus antecessores. 

Foi assim na Era Industrial, está sendo assim na Era Digital, e assim será na próxima Era que já está embarcada no futuro. 

​A diferença está na velocidade. Só que agora com o apocalipse por perto, o pavio é mais curto, a espoleta está seca e o estrondo do preconceito pode machucar a todos.

Revoluções verdadeiras na trajetória humana no planeta são raras, mas quando acontecem de tempos em tempos, viram o mundo de pernas para o ar. Será que a Revolução da Longevidade vai fazer isso também?

​É só uma questão de tempo para saber. Quem viver, verá.

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Marcos Kirst

Marcos Kirst é gestor cultural, editor, escritor e ghost writter. Atua no mercado editorial desde 1978. Foi diretor de Marketing e Comunicação da Câmara Brasileira do Livro e superintendente de Projetos e Programas Culturais da SP Leituras – Associação Paulista de Bibliotecas e Leitura. É conselheiro da UBE – União Brasileira de Escritores. É autor dos romances Eu Queria que Você Soubesse, publicado em 2015, e Na Língua dos Animais, a ser lançado brevemente. Tem contos publicados em antologias, jornais e outras publicações.

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