Renato Cirne
O enfrentamento do assédio no ambiente corporativo transcende a mera obrigação legal. Trata-se de um imperativo ético e social. As estatísticas revelam uma realidade preocupante: segundo a Organização Internacional do Trabalho, 17,9% dos trabalhadores sofreram assédio no trabalho. Esse número é ainda mais alarmante entre as mulheres, com quase a metade reportando ter sofrido algum tipo de assédio. Este cenário, descrito no artigo de Thalita Gelenske, aqui no Mais que Direito, aponta para a necessidade urgente de ação eficaz.
Mas a gestão prática desses casos revela uma complexidade e uma sensibilidade ímpares.
As companhias se veem diante de uma série de dilemas significantes: como abordar o assédio de forma eficaz e com a humanidade necessária? Como assegurar que as vítimas se sintam realmente ouvidas e protegidas, equilibrando a necessidade de transparência com as obrigações de sigilo?
Estas são apenas algumas das questões desafiadoras com que gestores e equipes de operação se deparam rotineiramente, muitas vezes sem soluções claras ou simples.
Dicotomias
Um dos maiores desafios reside na dicotomia entre sigilo e percepção de inação. Mesmo quando medidas são adotadas, como a demissão de um agressor após uma acusação, é preciso manter obrigações legais e confidencialidade, o que em grande parte das vezes impede sua divulgação pública.
Esta situação pode inadvertidamente criar uma impressão de que a empresa tolera o assédio, mesmo quando está combatendo esse mal ativamente.
Governança
Sob a ótica da governança – responsável por estabelecer políticas claras e a manutenção de padrões éticos elevados – , combater o assédio envolve não apenas a implementação de políticas de compliance robustas, mas também a criação de um ecossistema completo que promova a diversidade, a inclusividade e o respeito mútuo.
Uma governança eficaz assegura que as questões de assédio sejam tratadas não apenas como uma questão de legalidade, mas como parte integrante da cultura e dos valores da organização.
Resposta rápida
Diante desse cenário, o desafio dos especialistas em compliance está em desenvolver e implementar políticas que cumpram as normas legais, mas que também promovam um ambiente de trabalho seguro e inclusivo. Isso transforma o combate ao assédio em um reflexo da integridade e da responsabilidade social da empresa, fundamentais para a sustentabilidade organizacional no longo prazo.
É imperativo estabelecer mecanismos que permitam uma resposta rápida e justa às denúncias, respeitando a confidencialidade e protegendo os direitos de todos os envolvidos.
Este é um caminho repleto de nuances e desafios éticos, mas sua necessidade é inquestionável.
O objetivo é criar um ambiente corporativo onde o respeito mútuo e a segurança sejam a norma, não a exceção.
Como profissionais dedicados à ética empresarial, temos a responsabilidade de liderar essa mudança, assegurando que nossas organizações sejam espaços acolhedores e respeitosos para todos.