Jovens do Sul Global defendem uso de energia nuclear

Plataforma dos BRICS fortalece protagonismo do Sul Global na transição energética com foco em inovação, justiça climática e participação jovem.
Jovens do Sul Global defendem uso responsável da energia nuclear - Reprodução/Instagram

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Millena Galdino

A nova Plataforma de Energia Nuclear dos BRICS tem se consolidado como um ponto crucial para a transição energética global, com foco nos países do Sul Global. Milena Megré, cientista política especializada no bloco, destaca que essa iniciativa reforça a participação dos países emergentes nas decisões internacionais sobre energia e clima, marcando um passo importante para que essas nações façam ouvir suas vozes no cenário global.

“Eu acompanho o trabalho do Youth Energy Outlook desde 2018. O projeto passou de uma simples publicação para se tornar um referencial de políticas públicas e debates estratégicos, principalmente ao apresentar soluções baseadas nos desafios locais”, comenta Milena. Ela vê na Plataforma uma oportunidade única para especialistas e jovens dos BRICS oferecerem uma visão plural sobre a transição energética, conectando saberes técnicos às realidades sociais de cada país.

Segundo a especialista, o BRICS não busca confrontar o Norte Global, mas propor alternativas que equilibram as estruturas de poder. “Esses países, historicamente marginalizados, agora exigem um papel ativo nas decisões energéticas globais. Acreditamos que é possível realizar uma transição energética autônoma, com alternativas de financiamento, inovação tecnológica e justiça climática”, explica.

VII BRICS Youth Energy Summit

Durante o VII BRICS Youth Energy Summit, realizado em Brasília, nos dias 9 e 10 de junho, as discussões se concentraram nos desafios dos reatores modulares de pequeno porte (SMRs), vistos como fundamentais para ampliar o acesso à energia limpa em regiões com infraestrutura limitada, um tema chave nos acordos entre Brasil e Rússia.

“Para atingir as metas do Acordo de Paris, é essencial considerar a energia nuclear, pois ela complementa as renováveis e oferece estabilidade”, afirma Milena. Ela acredita que a Plataforma é a chave para que o Sul Global deixe de ser um receptor passivo e passe a formular soluções energéticas eficazes.

A Plataforma de Energia Nuclear dos BRICS propõe uma governança multipolar voltada ao desenvolvimento sustentável, com novos modelos de cooperação, como consórcios regionais e financiamento misto. Ao posicionar a energia nuclear como um pilar da transição verde, a iniciativa reforça o papel técnico e político do Sul Global.

+QD: De que forma o Youth Energy Outlook pode influenciar políticas públicas sobre transição energética nos países do BRICS, especialmente sob a ótica do Sul Global?

Milena Megré: Eu acompanho o trabalho do Youth Energy Outlook desde 2018. Desde o começo, ele se mostrou muito mais do que uma publicação — virou referência para formuladores de política, pesquisadores e ativistas. Quando a gente começou a colaborar com o Outlook, o foco era nacional, depois passou a dialogar com outros países do BRICS, e isso foi ampliando a perspectiva. Hoje ele tem um papel essencial ao apresentar soluções baseadas em dados, mas com a sensibilidade política e social que só quem vive nesses países pode trazer. Ele influencia diretamente políticas públicas ao mostrar que a juventude do Sul Global não só entende os desafios, mas tem propostas reais para solucioná-los.

+QD: Como você enxerga o papel do BRICS na construção de um modelo de governança justo e inclusivo para a transição energética nas economias emergentes?

Milena Megré: O BRICS nunca teve o objetivo de antagonizar ou substituir o que já existe, mas sim de oferecer uma alternativa. Uma alternativa de equilíbrio. E isso vale muito para a transição energética. A maioria dos países que compõem o BRICS — e o que a gente chama de maioria global — não se beneficiou da Revolução Industrial, foram historicamente explorados. Hoje, com o BRICS, esses países têm a chance de pesar na balança e dizer: ‘nós também vamos definir os rumos da transição energética, com nossas prioridades, com justiça social e climática’. Esse modelo inclusivo de governança que o BRICS propõem faz parte da realidade das nossas economias, e não de uma expectativa imposta de fora.

+QD: Por que é importante incluir a energia nuclear nos debates multilaterais de políticas públicas e como a Plataforma Nuclear dos BRICS pode contribuir nesse contexto?

Milena Megré: A energia nuclear é talvez a única fonte capaz de nos ajudar a atingir as metas climáticas do Acordo de Paris, seja para 2030 ou, quem sabe, 2050. Não dá para alcançar essas metas sem ela. Temos várias fontes limpas e renováveis, como eólica, solar e biomassa, que estão crescendo, o que é ótimo. Mas nenhuma delas gera a quantidade de energia que a nuclear pode gerar. Além disso, temos desafios com armazenamento, o alto custo das baterias de lítio e a mineração para produzi-las. A energia nuclear é crucial para complementar a matriz energética e garantir que a gente consiga atender à demanda e alcançar as metas climáticas. O Brasil já tem mais de 50% da matriz energética limpa e mais de 80% da elétrica renovável, mas a maioria dos países nem sequer tem essas metas. Se o Brasil busca chegar perto de 100%, queremos que outros países também consigam, pois a segurança energética é fundamental para atingir as metas climáticas.

Millena Galdino

Millena Galdino é jornalista, analista de comunicação na TAMB Conteúdo Estratégico e redatora.

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