Por Renan Salinas
Em um ambiente corporativo marcado pela velocidade das decisões e pela multiplicação de normas regulatórias, a governança deixou de ser apenas um pilar administrativo para se tornar um mecanismo estratégico de sustentabilidade e confiança.
De acordo com a PwC, 60% dos executivos afirmam que suas organizações enfrentam dificuldades para garantir o compliance diante do volume crescente de dados e exigências legais. É nesse contexto que a automação de processos robóticos (RPA) e a inteligência artificial (IA) ganham protagonismo, não como substitutas da análise humana, mas como extensões dela, capazes de dar precisão, rastreabilidade e agilidade a ambientes complexos.
O RPA se destaca por eliminar gargalos e minimizar o risco de falhas em processos repetitivos e de alto controle. Em setores altamente regulados, como financeiro, jurídico e de saúde, a automação permite que tarefas como conferência de dados, cruzamento de informações, auditorias e registros documentais sejam executadas de forma padronizada, auditável e com total transparência.
Cada ação realizada por um robô é registrada e pode ser rastreada, o que fortalece o princípio do accountability e oferece segurança frente às exigências da LGPD, da SOX e de outras normas internacionais..
IA: da detecção ao comportamento preditivo
Se o RPA traz rigor à execução, a IA leva inteligência à prevenção. Modelos de machine learning são capazes de identificar padrões anômalos em operações financeiras, detectar inconsistências contratuais e antecipar riscos de fraude ou não conformidade antes que se tornem problemas concretos. Estima-se que o uso de IA em programas de compliance pode elevar em até 40% a capacidade de detecção de irregularidades, uma mudança que transforma o papel das equipes jurídicas e de auditoria, que passam a atuar de forma preditiva, e não apenas reativa.
Além disso, a IA conecta dados de diferentes áreas e filiais, gerando uma visão sistêmica dos riscos corporativos. Isso permite que gestores tomem decisões baseadas em evidências, com clareza sobre as vulnerabilidades e os impactos potenciais de cada ação. Em ambientes complexos, essa inteligência integrada é o que diferencia a mera conformidade da verdadeira governança digital.
O equilíbrio entre controle e agilidade
Governar com dados é governar com confiança. A combinação entre RPA e IA não apenas aumenta a eficiência operacional, mas cria um ecossistema de controle inteligente em que cada processo é rastreável, cada decisão é documentada e cada risco é mensurável. O resultado é uma governança mais ágil, transparente e orientada à responsabilidade corporativa.
Em tempos em que o cumprimento das normas está intrinsecamente ligado à reputação e à perenidade das organizações, a tecnologia assume um papel ético: o de garantir que a eficiência nunca ultrapasse a integridade. RPA e IA, quando aplicadas com propósito, transformam o compliance de uma obrigação em um ativo estratégico e o controle, em um verdadeiro diferencial competitivo.


