Ana Lúcia Araújo
O ambiente corporativo contemporâneo exige que as barreiras entre áreas sejam derrubadas, e os conselheiros consultivos desempenham um papel central nessa transformação.
Em especial, o conselheiro especializado em comunicação atua como um facilitador estratégico, promovendo o alinhamento entre as demandas legais e as necessidades de uma comunicação transparente e eficaz.
Sua visão sistêmica e experiência contribuem para criar pontes entre departamentos, garantindo que decisões corporativas considerem tanto a conformidade jurídica quanto a reputação da empresa.
Essa integração é mais importante do que nunca. Vivemos uma era de colaboração, em que a parceria entre comunicação e jurídico fortalece a reputação empresarial, assegura conformidade legal e promove uma cultura organizacional ética.
Comunicação começa no Direito
No Brasil, as funções de comunicação e jurídico têm raízes históricas entrelaçadas. Os primeiros jornalistas brasileiros eram também advogados, combinando a habilidade de argumentação jurídica com a escrita voltada para a sociedade.
Um exemplo marcante é Hipólito José da Costa, advogado e jornalista, que fundou o Correio Braziliense em 1808, em Londres. Esse periódico, precursor da imprensa brasileira, foi criado como um espaço para debater ideias iluministas e influenciar a opinião pública em um país ainda submetido à censura colonial.
Com o tempo, outros advogados também utilizaram o jornalismo como ferramenta de mobilização social. Em 1821, o surgimento da imprensa oficial com o Diário do Rio de Janeiro deu voz a figuras como Evaristo da Veiga, que, além de advogado, destacava-se como jornalista defensor da liberdade de expressão e dos valores republicanos. Essa herança histórica ilustra como comunicação e jurídico sempre estiveram conectados pela busca de justiça e transparência.
A parceria na prática
No dia a dia corporativo, essa parceria entre comunicação e jurídico se manifesta em diversas frentes. Em momentos de crise, por exemplo, ambas as áreas precisam atuar em harmonia para mitigar danos à reputação da empresa.
Enquanto o jurídico oferece orientações sobre as implicações legais, a comunicação elabora mensagens claras e transparentes destinadas a stakeholders e à sociedade em geral. Essa colaboração é essencial para garantir que as respostas estejam em conformidade com a legislação, como prevê o artigo 116 da Lei 6404/76, que destaca o respeito aos interesses da comunidade.
Outro campo de atuação conjunta é o desenvolvimento de políticas internas, como códigos de ética e conduta. O jurídico assegura que essas políticas estejam em conformidade com as leis, enquanto a comunicação se encarrega de disseminá-las de maneira acessível e compreensível para os colaboradores. Essa dinâmica reflete princípios estabelecidos no artigo 1.011 do Código Civil, que preza pela diligência administrativa.
A parceria se estende também à realização de treinamentos corporativos. Em programas de compliance e ética, o jurídico fornece o conteúdo técnico necessário, enquanto a comunicação utiliza materiais didáticos e estratégias de engajamento para garantir que os colaboradores internalizem esses conceitos. Essa abordagem integrada é essencial para consolidar uma cultura organizacional voltada à prevenção de riscos legais.
Na gestão das relações com stakeholders, incluindo investidores, clientes e a comunidade, a colaboração entre as áreas é igualmente estratégica. O jurídico garante que as interações estejam em conformidade com regulamentações, enquanto a comunicação trabalha para construir e manter relações positivas. Esse esforço reflete os princípios do artigo 154 da Lei 6404/76, que destaca a função social da empresa.
Por fim, o monitoramento e a avaliação contínuos das práticas empresariais dependem dessa parceria integrada. O jurídico analisa a conformidade legal das operações, enquanto a comunicação avalia a eficácia de mensagens e campanhas. Esse trabalho conjunto permite ajustes e melhorias que asseguram a relevância da empresa no mercado.
A parceria entre comunicação e jurídico vai além de garantir conformidade legal. Trata-se de criar uma cultura organizacional ética, transparente e preparada para enfrentar os desafios de um mercado em constante evolução.
O papel do conselheiro consultivo especializado em comunicação é o de fortalecer essa conexão, ajudando as empresas a navegar com sucesso por questões legais e reputacionais. Trabalhando a quatro mãos, essas áreas constroem empresas mais sólidas, confiáveis e bem-sucedidas.
*Artigo originalmente escrito para o curso de Conselho Consultivo da Board Academy