Tomás Vilela
Diante da previsão de escassez global de urânio a partir de 2027, os países do BRICS têm uma oportunidade estratégica de ocupar protagonismo no setor nuclear por meio da cooperação em mineração, inovação tecnológica e formação de jovens talentos. A avaliação é da russa Altynay Bakhtina, líder do setor de ciência e inovação da JSC (parte do setor de mineração da Rosatom), que defende a criação de um fundo de investimentos conjunto e um centro unificado de pesquisa nuclear como caminhos para consolidar o bloco como liderança no fornecimento de energia limpa e segura. “O urânio é uma matéria-prima crítica para a transição energética. Precisamos de mais exploração, mais formação e mais diálogo técnico entre nossos países”, afirma em entrevista.
Bakhtin participou esta semana do BRICS Youth Energy Summit, em Brasília. Durante o evento, uma sessão especial da Plataforma Nuclear do BRICS destacou o papel dos Pequenos Reatores Modulares (SMRs) como ferramenta-chave para descarbonizar setores de difícil transição e construir uma arquitetura energética multipolar baseada na cooperação internacional.
A sessão também reforçou a importância do envolvimento da juventude na inovação nuclear e nas parcerias energéticas transfronteiriças, com o anúncio da elaboração de um estudo inédito sobre o desenvolvimento dos SMRs, que integrará o BRICS Youth Energy Outlook 2025. A Plataforma Nuclear do BRICS é uma iniciativa internacional e independente que reúne empresas, governos e organizações para promover a energia nuclear como solução limpa e cooperativa para o Sul Global.
Como você avalia a cooperação entre empresas dos países do BRICS no setor de mineração de urânio? Existem exemplos desse tipo de cooperação?
Altynay Bakhtina: A cooperação no âmbito do BRICS é possível nas áreas de intercâmbio tecnológico, harmonização de programas de formação e capacitação, e padronização de exigências ambientais e de segurança radiológica. Uma plataforma e um fundo de investimento unificados do BRICS para a gestão conjunta de investimentos em energia nuclear poderiam fortalecer significativamente a posição dos países do BRICS no mercado energético global. A corporação estatal Rosatom está implementando vários projetos de desenvolvimento de jazidas de urânio na Ásia Central e na África, e esse tipo de cooperação poderia ser expandido para outros países do BRICS.
Como jovens inovadores e empreendedores tecnológicos dos países do BRICS podem aproveitar ao máximo o potencial da Plataforma Nuclear
Altynay Bakhtina: A digitalização dos processos de mineração, logística e monitoramento das instalações de energia nuclear, bem como conferências científicas e técnicas internacionais — tudo isso seria de grande interesse para os jovens cientistas.
Quais passos ou iniciativas específicas você gostaria de propor ou apoiar na Cúpula para promover a cooperação tecnológica e a inovação no âmbito do BRICS no campo da energia limpa e confiável?
Altynay Bakhtina: O cenário ideal seria dar continuidade às iniciativas atuais para a criação de um Centro Unificado de Pesquisas Nucleares do BRICS, visando facilitar o intercâmbio mais ativo de experiências entre jovens cientistas, além de estabelecer um padrão educacional unificado. Também seria desejável organizar um fórum anual de jovens profissionais da energia nuclear do BRICS.
Quão preparada está a indústria moderna de mineração de urânio para apoiar o desenvolvimento sustentável de longo prazo da energia nuclear como um elemento importante da transição energética?
Altynay Bakhtina: A AIEA prevê que a demanda por combustível nuclear aumentará significativamente entre 2025 e 2035, devido à expansão dos programas de construção de usinas nucleares para o desenvolvimento sustentável da economia e do setor energético globais. Em seu relatório mais recente ‘Urânio: Recursos, Produção e Demanda’, a AIEA prevê escassez de urânio extraído já em 2027 no cenário ‘alto’ e em 2031 no cenário ‘baixo’. Assim, o urânio é uma matéria-prima estratégica da qual depende em grande parte o apoio à transição energética. É necessário aumentar os investimentos em exploração geológica e construção de minas. A corporação estatal Rosatom está investindo ativamente na prospecção de novos depósitos na Rússia e no exterior. Ao mesmo tempo, são utilizadas tecnologias ambientalmente mais seguras, como a lixiviação in situ para extração de urânio.