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O conflito como caminho: quando divergir é crescer

É no atrito de ideias e perspectivas que surgem as melhores oportunidades de aprendizado
Evitar o conflito pode parecer uma saída confortável. Mas silenciar tensões não elimina o problema
Evitar o conflito pode parecer uma saída confortável. Mas silenciar tensões não elimina o problema

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Sadik Sarkis

O conflito acompanha a trajetória humana desde sempre. Ele surge quando há divergência de interesses, necessidades ou opiniões, e manifesta-se em diferentes cenários: na família, no ambiente de trabalho, entre amigos e até nas decisões individuais. Em um mundo cada vez mais diverso e dinâmico, o conflito não é uma possibilidade remota — é uma certeza cotidiana.

Porém, sua presença constante nem sempre é vista com bons olhos. Ainda prevalece a ideia de que o conflito deve ser evitado a todo custo, associado automaticamente a rupturas, desgaste emocional e ineficiência. Essa visão, no entanto, não contempla a totalidade do fenômeno.

Quando o Conflito Vira Oportunidade

É no atrito de ideias e perspectivas que surgem as melhores oportunidades de aprendizado. Conflitos bem conduzidos incentivam a reflexão, desafiam convicções rígidas e exigem habilidades que vão além da mera reação instintiva. A gestão saudável de um conflito favorece o desenvolvimento da empatia, da capacidade de comunicação e da flexibilidade para negociar soluções.

No ambiente familiar, por exemplo, discussões sobre finanças, educação dos filhos ou tarefas do dia a dia são comuns. Embora incômodas, essas divergências têm o potencial de fortalecer vínculos quando encaradas de forma madura, com espaço para a escuta e o entendimento mútuo.


Por que isso importa?

O conflito faz parte da vida cotidiana e pode ser um fator de crescimento e aprendizado quando gerenciado corretamente. Muitas pessoas ainda o veem como algo negativo, mas o texto destaca que, se bem conduzido, pode fortalecer relações, estimular a inovação e promover o desenvolvimento de habilidades essenciais, como empatia e comunicação assertiva. Além disso, abordar conflitos de forma produtiva evita desgastes emocionais e processos judiciais desnecessários, incentivando soluções mais eficazes e colaborativas.

Da mesma forma, no ambiente corporativo, equipes diversas, formadas por diferentes gerações e backgrounds, inevitavelmente se deparam com visões distintas. O gestor que sabe transformar esses embates em momentos de alinhamento e construção coletiva contribui para um clima organizacional saudável e para a inovação.

O Perigo dos Conflitos Não Resolvidos

Evitar o conflito pode parecer, à primeira vista, uma saída confortável. Mas silenciar tensões não elimina o problema — apenas o adia. Conflitos não endereçados tendem a se acumular, resultando em estresse, distanciamento emocional e, muitas vezes, ruptura definitiva das relações.

É neste ponto que habilidades como escuta ativa, comunicação assertiva e empatia tornam-se cruciais. Saber ouvir sem julgamento, expressar opiniões de maneira clara e respeitosa, e estar disposto a considerar o ponto de vista alheio são atitudes fundamentais para resolver conflitos de forma produtiva.


Para quem esse assunto interessa?

Indivíduos e famílias, que lidam com desentendimentos no dia a dia e podem aprender a resolvê-los de forma mais construtiva.
Profissionais e empresas, especialmente gestores e líderes, que precisam transformar conflitos internos em oportunidades para inovação e colaboração.
Mediadores e profissionais do direito, que atuam na resolução de disputas e podem utilizar métodos alternativos para evitar processos judiciais desgastantes.
Educadores e instituições sociais, que ajudam a preparar indivíduos para lidar com divergências e desenvolver habilidades de diálogo.
A sociedade como um todo, que pode se beneficiar de uma cultura mais madura e aberta ao enfrentamento saudável do contraditório.

O Papel das Instituições: Justiça e Alternativas

Em uma sociedade juridicamente organizada, quando as partes não conseguem resolver suas divergências por conta própria, recorrem ao Judiciário. Este é um exemplo clássico do chamado método heterocompositivo: um terceiro imparcial (juiz) é responsável por impor uma solução.

Apesar de sua importância, o Judiciário nem sempre é o caminho mais eficiente, sobretudo quando se trata de conflitos cotidianos ou que envolvem relações de natureza continuada. O processo judicial pode ser demorado, oneroso e distante das necessidades reais das partes, muitas vezes motivadas por conflitos familiares nem sempre tão explícitas ou detectáveis pelo judiciário.

Nesse cenário, ganham espaço os métodos alternativos de resolução de conflitos, especialmente com a mediação, onde as partes são incentivadas a restabelecer o diálogo, com o apoio de um mediador especializado, para que possam chegar juntas, lado a lado e não frente a frente, a uma solução satisfatória. É um modelo que valoriza a autonomia e a corresponsabilidade, evitando desgastes desnecessários. Afinal, numa relação de natureza continuada, as mesmas pessoas, hoje conflitantes, poderão estar sentadas juntas no almoço de domingo da família.

Conflito e Transformação Social

O modo como os conflitos são enfrentados reflete, também, a evolução da sociedade. Instituições tradicionais, como família, igreja e empresas, vêm revendo suas práticas para acompanhar novas demandas sociais. A rigidez de abordagens hierárquicas dá lugar a processos mais inclusivos e dialogados, que reconhecem a pluralidade de vozes e perspectivas.

Além disso, as tecnologias de comunicação digital intensificaram a exposição de opiniões divergentes. Nunca foi tão fácil expressar ideias — e, ao mesmo tempo, tão desafiador lidar com as reações que elas provocam. Nesse contexto, desenvolver maturidade para conviver com o contraditório é uma habilidade indispensável.

Conflito Como Professor

Diante dessas reflexões, uma conclusão se impõe: o conflito em si não é um problema a ser extirpado. Ele é, na verdade, uma ferramenta poderosa de autoconhecimento e transformação, desde que encarado com disposição para o diálogo e, a depender do tipo de relacionamento entre os envolvidos, o uso adequado dos métodos alternativos de composição de conflitos se faz essencial para uma solução eficaz.

É no desconforto gerado pelo embate de ideias que surgem os maiores aprendizados. Quando nos permitimos ouvir, questionar e buscar soluções conjuntas adequadas, não apenas resolvemos divergências, mas crescemos como indivíduos e sociedade.

O desentendimento, afinal, pode ser mais do que um obstáculo. Pode ser um professor disfarçado.

Foto de Sadik Sarkis

Sadik Sarkis

Advogado corporativo com experiência de mais de 20 anos na área de gestão jurídica. Possui formação Executiva em Liderança e Negociação pela Executive Language Institute na Hult International Business School in Boston/MA. Associado com formação de Conselheiro Independente e integrante da Comissão Jurídica do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Membro de Conselho Fiscal e Membro de Conselho Consultivo de instituições do terceiro setor. Integrante do Comitê Institucional da Associação Brasileira de Atacado de Autosserviço – Atacarejo (ABAAS) e do Comitê Jurídico da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS). Certificação em Educação Executiva em Compliance e formação de Especialista em Compliance, ambos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-Law/SP). Membro da Comissão Especial de Compliance da OAB/SP e Membro do Comitê de Cultura de Integridade da Rede Brasil do Pacto Global da ONU. MBA em Inteligência Artificial para Negócios pela Faculdade Exame Saint Paul. Mestrando em Direito em Soluções Alternativas de Controvérsias Empresariais pela Escola Paulista de Direito (EPD). Atualmente ocupa a posição de Diretor Jurídico e Compliance de empresa de grande porte no segmento de atacado e varejo alimentar.

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