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A verdade é que tem muito beócio se achando Boécio

Em um mundo onde hashtags substituem argumentos e memes são a nova retórica, os beócios digitais formados pela Universidade do WhatsApp proliferam
Em um mundo saturado de opiniões, a verdadeira sabedoria pode residir no silêncio reflexivo e na busca constante pelo conhecimento
Em um mundo saturado de opiniões, a verdadeira sabedoria pode residir no silêncio reflexivo e na busca constante pelo conhecimento

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Denis Zanini Lima

Boécio (480-524 d.C.) foi um filósofo romano, considerado o último dos antigos e o primeiro dos escolásticos.

Escritor, tradutor, poeta, teólogo e estadista, sua obra ‘A Consolação da Filosofia’, escrita na prisão, é um marco do pensamento ocidental, unindo filosofia clássica e teologia cristã.

Mas o que isso tem a ver com o mundo atual? Surpreendentemente, muito mais do que imaginamos.

A Era Dunning-Kruger

Na verdade, a sabedoria de Boécio é mais útil e relevante do que nunca, principalmente quando estamos vivendo o auge da Era Dunning-Kruger.


Por que isso importa?

Esse assunto importa porque, na era digital, a desinformação e a superficialidade do pensamento são amplificadas pelas redes sociais. O resgate da filosofia e da humildade intelectual pode ajudar a criar debates mais ricos, incentivando a reflexão profunda e o pensamento crítico em um ambiente saturado de opiniões rápidas e vazias.

Este fenômeno – relatado pelos psicólogos David Dunning e Justin Kruger- diz respeito a indivíduos com parcos conhecimentos (os beócios) que superestimam suas competências e usam as redes sociais para expor seus rasos pensamentos, acreditando estar em pé de igualdade com os de especialistas.

Com razão, em um mundo onde hashtags substituem argumentos e memes são a nova retórica, os beócios digitais formados pela Universidade do WhatsApp proliferam.

Isso torna o debate tendencioso, vago e repetitivo, dando luz a um pernicioso pensamento de grupo.


Para quem esse assunto interessa?

O tema interessa a todos que desejam uma comunicação mais qualificada, incluindo estudantes, acadêmicos, filósofos e qualquer pessoa preocupada com a qualidade do debate público. Também é relevante para educadores, jornalistas e criadores de conteúdo que buscam combater a superficialidade e incentivar o aprendizado contínuo.

Contudo, nem tudo está perdido. Acredito que, aos poucos, com muita paciência, empatia e diálogo, é possível reverter esse quadro.

Imagine, por exemplo, se tratássemos nosso feed como uma espécie de cela de Beócio?

Um espaço onde coisas irrelevantes não tem acesso, destinado à reflexão profunda, à produção intelectual, um verdadeiro bunker contra distrações e relações superficiais?

Poderíamos transformar cada notificação em uma oportunidade de questionamento, cada post em um convite à contemplação.

Modernidade

Ser um Boécio moderno não é sobre ter todas as respostas, mas sobre fazer as perguntas certas.

É trocar o “compartilhar sem ler tomado pela emoção” pelo “ler e refletir antes de opinar”.

É entender que a verdadeira influência não se mede em seguidores, mas em mentes provocadas a pensar.

A verdadeira consolação da filosofia na era digital pode estar justamente em desacelerar, questionar e, quem sabe, admitir: “Não sei, mas quero aprender”.

Este é o verdadeiro amor ao aprendizado

Esta humildade intelectual, tão rara quanto valiosa, pode ser o antídoto para a arrogância do conhecimento superficial que tanto assola as redes sociais.

Em um mundo saturado de opiniões, a verdadeira sabedoria pode residir no silêncio reflexivo e na busca constante pelo conhecimento.

Foto de Denis Zanini Lima

Denis Zanini Lima

Denis Zanini Lima é CEO da Ynusitado Digital Marketing Intelligence e autor do livro "O Carteiro do Universo: O Livro das Cartas Não Enviadas"

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