A Geração Z não é o futuro, é o fim de um passado mal resolvido

Como as que a precederam, a nova geração reage ao mercado em transformação — a diferença é que, desta vez, a recusa ao velho modelo de trabalho se tornou explícita
O que muitos ainda veem como ceticismo ou rebeldia é, na verdade, um mecanismo de defesa diante de um sistema repleto de contradições

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Cristiano Zanetta

O passado mal resolvido do mundo corporativo foi construído sobre duas grandes ilusões. A primeira era a crença de que produtividade se mede pelo número de horas trabalhadas, e não pelo impacto gerado. A segunda, a ideia de que uma cultura organizacional forte se traduz em desempenho constante e incansável. Sob o disfarce da inovação, rotinas exaustivas e discursos grandiosos apenas mascaravam o verdadeiro problema: a falta de um propósito genuíno.


Por que isso importa?

A Geração Z (25% da força de trabalho global) está expondo contradições do mundo corporativo, exigindo ética real das empresas (88% boicotam marcas questionáveis). Isso força uma transformação necessária de um modelo insustentável baseado em horas trabalhadas e discursos vazios para práticas genuínas com propósito.

Entre metas inalcançáveis e práticas vazias, consolidou-se uma cultura mais preocupada em parecer do que em ser. Agora, essa bolha começa, enfim, a se desfazer. Não por causa de uma crise externa, mas impulsionada por uma força geracional. A Geração Z – que em 2025 já representa um quarto da força de trabalho global, segundo relatório da McKinsey – vem contestando antigos padrões e os expondo por completo.

Suas demandas expõem a contradição entre o discurso das empresas e suas práticas reais. E não se limitam a apontar falhas — propõem um novo caminho: mais consciente, pragmático e guiado por valores genuínos.


Para quem isso interessa?

Líderes empresariais, RH, gestores de marca e profissionais que precisam adaptar culturas organizacionais. Também para a própria Geração Z que busca trabalho com propósito, e Millennials/Gen X que compartilham essas frustrações.

Com o objetivo de entender como a Geração Z se posiciona diante de influências e escolhas de consumo, o InstitutoZ — braço de pesquisa e formação da Trope — realizou um estudo em parceria com a YOUPIX. A pesquisa investigou quem influencia essa geração e de que forma ela considera aspectos éticos na relação com marcas.

O dado mais revelador: 88% dos jovens afirmam se importar com a ética das empresas e estão dispostos a boicotar aquelas cujas práticas consideram questionáveis. O número reforça um comportamento engajado, que prioriza marcas com propósito e adota atitudes concretas diante de desalinhamentos de valores.

O mundo que antecedeu a Geração Z

Antes de a Geração Z ganhar protagonismo, o ambiente corporativo já mostrava sinais de desgaste. A produtividade era medida pelo tempo no escritório, não pelo impacto. Jornadas longas eram compensadas com benefícios superficiais, como after office e ambientes “descolados” — que, na prática, apenas apagavam os limites entre vida profissional e pessoal.

Termos como ‘propósito’ e ‘impacto social’ tornaram-se recorrentes nas falas institucionais, compondo uma narrativa inspiradora — porém, muitas vezes, vazia. Havia a intenção declarada de ‘mudar o mundo’, mas as práticas adotadas raramente acompanhavam essa retórica. Essa desconexão entre discurso e ação gerou uma frustração crescente, sobretudo com a nova força de trabalho, que passaram a questionar com mais intensidade o verdadeiro compromisso das organizações.

Esse descompasso não surgiu de forma abrupta. Na verdade, ele apenas tornou visível um desgaste que já vinha se acumulando ao longo do tempo. A insatisfação da nova geração, portanto, não é um fenômeno isolado — ela reflete um incômodo coletivo com um modelo que há muito deixou de fazer sentido.

Uma nova era

O que muitos ainda veem como ceticismo ou rebeldia é, na verdade, um mecanismo de defesa diante de um sistema repleto de contradições. Trata-se de uma geração que anseia por clareza, coerência e verdade — não apenas nos discursos, mas, sobretudo, nas ações. Esse movimento agora se traduz no desejo por uma vida mais equilibrada e por ambientes de trabalho mais saudáveis e humanos.

Essa mudança de mentalidade já se reflete em diferentes aspectos do comportamento. Segundo a Berenberg Research, 64% da Geração Z consome menos álcool do que os Millennials. Estar sóbrio — no sentido literal e simbólico — é uma forma de manter a lucidez em um mundo saturado de distrações. Como destacou o Financial Times, essa é uma geração que vê a clareza como uma nova forma de capital social.

Nesse contexto, a clareza tornou-se o novo “QI corporativo”. Organizações que insistem em culturas caóticas, metas sem propósito e estímulos desconectados perdem relevância diante de talentos que buscam fazer diferente. Reduzir o excesso e aumentar o impacto: essa é a nova equação. Operar com menos espetáculo e mais substância: esse é o novo posicionamento. 

Sua empresa está realmente preparada para o nível de consciência que a nova geração exige, ou ainda tenta mascarar a falta de propósito com narrativas vazias? 

Essa transformação não é impulsionada apenas pela Geração Z. Ela se tornou inevitável porque o modelo de trabalho anterior simplesmente não se sustenta mais.

Cristiano Zanetta

Empresário, palestrante TED e filantropo reconhecido pela Warner Bros. Se destaca como uma das principais referências do país no campo da humanização e tem desempenhado um papel significativo na reinvenção das ações sociais em todo o Brasil, conforme destacado pela Federação Brasileira dos Hospitais. Sua notável contribuição lhe rendeu duas medalhas de honra do Exército de Santa Catarina, em virtude do trabalho realizado junto a pacientes oncológicos. Além disso, Cristiano é o autor do livro "A Ciência do Batman", que se baseia em duas décadas de suas ações sociais.

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